EUA pedem que América Latina defina 'de que lado está' sobre Irã antes da Assembleia da OEA

LIGA DAS NOTÍCIAS

O governo dos Estados Unidos aumentou a pressão diplomática sobre os países da América Latina ao pedir uma definição clara de posição diante da escalada de tensão com o Irã. A cobrança foi feita nesta semana, poucos dias antes da abertura da 55ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, que começa nesta quarta-feira, 25 de junho, em Antígua e Barbuda. Em uma coletiva virtual com a imprensa internacional, uma alta funcionária do Departamento de Estado declarou que o momento é oportuno para que os países do continente decidam se continuarão alinhados com os princípios democráticos do Ocidente ou se preferirão manter relações com o que chamou de um regime patrocinador estatal do terrorismo. A declaração faz referência direta ao Irã, alvo de um recente bombardeio norte-americano autorizado pelo presidente Donald Trump.


O ataque, que atingiu três instalações nucleares em território iraniano, reacendeu as tensões no Oriente Médio e dividiu opiniões entre os governos latino-americanos. Brasil, Chile e Colômbia criticaram duramente a ofensiva, afirmando que a ação dos Estados Unidos representa uma violação do direito internacional e contribui para a instabilidade global. Já a Argentina manifestou apoio à decisão americana, alegando que a medida foi uma resposta necessária à ameaça crescente representada pelo regime de Teerã. Por outro lado, países como Cuba e Venezuela aproveitaram o episódio para demonstrar solidariedade ao Irã, reforçando seus laços históricos e ideológicos com o regime dos aiatolás.


A representante americana, ao ser questionada sobre a possibilidade de a OEA discutir formalmente a questão iraniana, evitou confirmar qualquer proposta concreta, mas afirmou que os acontecimentos recentes devem estar presentes nas discussões entre os países membros. Para ela, cada nação terá a oportunidade de mostrar de forma clara e inequívoca onde está sua lealdade em um momento em que, segundo disse, os valores fundamentais do hemisfério estão sendo testados.


A Assembleia da OEA deste ano será a primeira sob a liderança do novo secretário-geral, o surinamês Albert Ramdin, que assumiu o cargo após a saída do uruguaio Luis Almagro. Ramdin é o primeiro caribenho a chefiar a organização e terá pela frente uma pauta carregada de temas delicados, como a crise no Haiti, o avanço da influência chinesa na América Latina e, agora, a crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irã. O Departamento de Estado afirmou que sua delegação à assembleia trabalhará para reafirmar a liderança dos EUA no continente, fortalecer a governança democrática, defender o Estado de Direito e iniciar os preparativos para a 10ª Cúpula das Américas, marcada para dezembro na República Dominicana.


Além da questão iraniana, os Estados Unidos também manifestaram preocupação com a candidatura da ativista cubana Rosa María Payá a uma vaga na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para o mandato de 2026 a 2029. Segundo o governo americano, a eleição de Payá, conhecida por sua militância contra o regime de Havana, reforçaria o compromisso da OEA com os direitos humanos e a democracia. A candidatura, no entanto, já provoca resistência de governos aliados a Cuba, que acusam os EUA de interferência ideológica no processo interno da organização.


Outro ponto que tende a gerar embates na assembleia é a presença da China como observadora permanente na OEA. A diplomacia americana deixou claro que pretende conter qualquer tentativa de Pequim de ampliar sua influência sobre os rumos da organização. Segundo a porta-voz do Departamento de Estado, os Estados Unidos trabalharão para garantir que os países da região tomem decisões informadas e conscientes sobre o engajamento com a China. Ela afirmou que Washington está determinado a impedir que o papel de observadora da China seja utilizado para enfraquecer os objetivos de democracia, segurança e progresso econômico da OEA.


A expectativa é que os próximos dias sejam marcados por intensas negociações, disputas diplomáticas e uma clara demonstração de forças entre os diferentes blocos ideológicos que compõem a organização. A pressão dos Estados Unidos por um alinhamento mais rígido contra o Irã, somada à tensão em torno da presença chinesa e das disputas por cargos estratégicos, revela um cenário em que a OEA volta a ocupar um papel central nas disputas geopolíticas do continente. Enquanto isso, os governos da América Latina terão de equilibrar seus interesses nacionais com as pressões externas, em um tabuleiro onde cada posição adotada poderá ter consequências duradouras nas suas relações bilaterais e multilaterais.


Tags

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Check Now
Accept !