A acareação realizada na manhã desta terça-feira, dia 24, entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general da reserva Walter Braga Netto, dentro do Supremo Tribunal Federal, foi marcada por tensão, constrangimento e um evidente desequilíbrio de posturas entre os dois militares envolvidos. O encontro, conduzido pessoalmente pelo ministro Alexandre de Moraes e acompanhado pelo também ministro Luiz Fux e pelo procurador-geral da República Paulo Gonet, teve pouco mais de duas horas de duração e foi descrito por pessoas próximas como um verdadeiro desastre para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. |
Desde o início, ficou claro que Braga Netto adotaria uma posição firme. O general, que também ocupou cargos de destaque durante o governo Bolsonaro, manteve postura imponente e não hesitou em confrontar diretamente as declarações de Cid. Com olhar penetrante e voz firme, chamou o ex-ajudante de ordens de mentiroso, contradizendo ponto a ponto as versões sustentadas por ele ao longo das investigações. A acareação teve momentos de tensão explícita, quando Braga Netto chegou a elevar o tom ao refutar com veemência o que classificou como inverdades ditas por Cid. De acordo com relatos, sua linguagem corporal era de quem tinha convicção no que dizia e não temia qualquer tipo de questionamento.
Enquanto isso, Mauro Cid demonstrou visível desconforto. Com semblante abatido e comportamento que chamou a atenção de todos os presentes, evitava encarar Braga Netto diretamente. Em diversos momentos, mantinha os olhos fixos na mesa ou desviava o olhar sempre que interpelado pelo general. Seu tom de voz era mais baixo, vacilante, e suas respostas, em contraste com a firmeza do outro lado, soaram frágeis e pouco convincentes. Segundo fontes com acesso à sala da audiência, o comportamento de Cid foi descrito como deprimente, quase submisso, o que reforçou a percepção de que ele não conseguiu sustentar suas declarações diante do confronto direto com Braga Netto.
A iniciativa de promover a acareação partiu do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito que investiga supostos atos antidemocráticos e uma eventual tentativa de golpe de Estado. A medida foi tomada diante das divergências flagrantes entre os depoimentos prestados por Cid e Braga Netto. Enquanto o primeiro vinha colaborando com a Justiça em uma tentativa de firmar um acordo de delação premiada, o segundo sempre negou qualquer envolvimento em articulações golpistas ou reuniões que tivessem como objetivo romper com a ordem institucional. Diante da dificuldade em conciliar os relatos, Moraes optou pelo confronto direto, uma estratégia incomum, mas que pode ajudar a esclarecer pontos sensíveis da investigação.
Durante o encontro, os dois militares ficaram sentados frente a frente, em lados opostos de uma mesa, em uma sala reservada dentro do edifício do Supremo Tribunal Federal. A dinâmica seguiu um formato formal, com perguntas sendo feitas pelos ministros e pelo procurador-geral, mas em vários momentos o clima saiu do controle institucional e ganhou contornos de confronto pessoal, especialmente quando Braga Netto rebateu de forma incisiva as insinuações de Cid. Apesar da rigidez do ambiente, o general não escondeu sua indignação e deixou claro que, em sua avaliação, está sendo alvo de acusações falsas que colocam sua honra em xeque.
A repercussão da acareação já começou a se espalhar entre os bastidores políticos e jurídicos de Brasília. O desempenho de Mauro Cid, que já vinha sendo questionado por alguns setores da própria Justiça devido a contradições e lacunas em seus depoimentos, agora sofre um novo desgaste. A imagem de alguém que tenta colaborar, mas não sustenta suas declarações quando confrontado, pode comprometer o avanço de uma eventual delação e abrir espaço para a desconfiança de que estaria apenas tentando salvar a própria pele. Já Braga Netto, apesar de continuar sendo alvo de investigação, sai fortalecido no campo simbólico, com a postura de quem nada teme e não se esconde diante das acusações.
Embora o conteúdo integral da acareação não tenha sido divulgado, o que se viu foi mais um capítulo tenso de um processo que continua expondo divisões internas nas Forças Armadas, no núcleo próximo ao ex-presidente e no sistema de Justiça. As próximas semanas devem ser decisivas para definir os rumos das investigações e a confiabilidade das colaborações em curso. O episódio desta terça-feira reforça o quanto o ambiente político e jurídico brasileiro segue em ebulição e como os desdobramentos ainda prometem novas surpresas.