Defesa de presa do 8/1 aciona OEA contra PGR e penitenciária

LIGA DAS NOTÍCIAS

Nesta terça-feira, 24 de junho, foi protocolada uma denúncia urgente perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, relatando graves violações de direitos humanos sofridas por Ana Flávia de Souza Monteiro Roza, atualmente custodiada no Presídio Feminino do Distrito Federal, conhecido como Colmeia. A denúncia, encaminhada à Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da comissão, expõe um cenário alarmante de ameaças de morte, omissão médica, tortura institucional e risco iminente à vida da detenta, que está presa desde janeiro de 2023.


Os advogados Ana Caroline Sibut, Luiz Felipe Pereira da Cunha, Tanieli Telles Camargo Padoan e Helio Garcia Ortiz Júnior, responsáveis pela denúncia, atribuem responsabilidade direta ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, por omissão deliberada diante da situação extrema enfrentada por Ana Flávia. A direção do presídio também é apontada como responsável pela negligência estrutural, médica e institucional, que, segundo os advogados, mantém as mulheres presas em um estado contínuo de vulnerabilidade e risco. A defesa relata que Ana Flávia, de 47 anos, mãe de um menino de oito anos e avó de dois netos, foi infectada por Covid-19 dentro da unidade prisional e não recebeu nenhum tipo de tratamento médico.


Além disso, ao tentar relatar sua condição de saúde e o surto de Covid que estaria sendo deliberadamente abafado pela direção do presídio, Ana Flávia teria sido ameaçada de morte. O presídio, conforme denúncias de advogados, familiares e entidades de direitos humanos, acumula uma longa lista de irregularidades, com destaque para o Bloco VII, onde Ana Flávia está recolhida. Este bloco, conhecido por abrigar internas com transtornos psiquiátricos, não oferece condições mínimas de saúde, segurança ou salubridade.


O estado de saúde da detenta é considerado gravíssimo. Ana Flávia sofre de depressão profunda e hipertensão arterial, quadro que se agravou nos últimos dias, conforme relato colhido em videoconferência com uma médica identificada como Geusa. A paciente relatou estar com fortes dores de cabeça, dor de ouvido e sintomas gripais intensos, além de ter sido privada de sua roupa de frio, o que a expõe ao risco de pneumonia. Mesmo diante dessas informações, o procurador-geral da República negou por duas vezes o pedido de prisão domiciliar, ignorando laudos médicos e denúncias formais que indicam risco real de morte e violação de garantias fundamentais.


A defesa afirma que a manutenção da prisão de Ana Flávia, nas condições atuais, é incompatível com os princípios do Estado Democrático de Direito e com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Os advogados argumentam que a situação viola diversos dispositivos legais e tratados internacionais, entre eles o artigo 318 do Código de Processo Penal, que autoriza a substituição da prisão preventiva por domiciliar no caso de mulheres com filhos menores de 12 anos, a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, as Regras de Mandela da ONU e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos.


A denúncia destaca ainda o tratamento desigual no sistema penal brasileiro, que favorece figuras públicas e mulheres com influência política ou econômica, enquanto pune com rigidez mães pobres, muitas vezes invisíveis diante do poder judiciário. Como exemplo dessa disparidade, os advogados citam o caso da ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, Adriana Anselmo, que obteve prisão domiciliar após 111 dias de detenção, enquanto Ana Flávia permanece presa há mais de dois anos, sem acesso à saúde e com um filho pequeno à espera.


O caso escancara a seletividade do sistema penal, que parece pesar com mais força sobre mulheres pobres e marginalizadas. A denúncia agora está nas mãos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que poderá solicitar informações ao Estado brasileiro e, eventualmente, emitir medidas cautelares para proteção da vida e integridade física de Ana Flávia. A expectativa da defesa é de que a pressão internacional force uma revisão urgente da prisão e que a custodiada seja transferida para o regime domiciliar, conforme determina a legislação vigente.


Enquanto isso, a situação da detenta permanece crítica e a omissão das autoridades brasileiras segue sendo denunciada como cúmplice de um sistema que ignora a dignidade humana e as garantias básicas de mulheres que já perderam quase tudo, menos o direito de serem tratadas como seres humanos.


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