Com a inelegibilidade do ex-presidente mantida até 2030, Tarcísio surge naturalmente como um dos nomes mais fortes no campo conservador. Apesar de insistir publicamente na intenção de buscar a reeleição em São Paulo, nos bastidores o governador é tratado como uma alternativa real para disputar o Palácio do Planalto. A avaliação é de que, caso a conjuntura política se mantenha desfavorável para Bolsonaro, caberá a Tarcísio liderar a direita e enfrentar a máquina do governo Lula. A ação de elevar o salário mínimo estadual, nesse contexto, pode ser interpretada como a construção de uma bandeira sólida para uma eventual campanha nacional.
Aliados próximos ao governador comentam que ele já teria em mãos um discurso eficaz contra o governo federal, baseado em comparações diretas entre a gestão paulista e a administração petista. O novo valor do salário mínimo em São Paulo é hoje 18,84% superior ao piso nacional e aproxima o estado dos demais que adotam salários regionais próprios, como Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A medida demonstra uma preocupação do governo paulista com o poder de compra da população e reforça a imagem de Tarcísio como gestor técnico e sensível às demandas sociais.
A repercussão em Brasília, no entanto, vai além da análise econômica. Caciques do Centrão se mostraram incomodados com o protagonismo assumido por Tarcísio, temendo que sua ascensão desorganize as alianças políticas já em gestação para 2026. Líderes de partidos de centro-direita avaliam que o governador paulista está, mesmo que de forma velada, pavimentando o caminho para uma candidatura nacional. O silêncio de Tarcísio sobre os desdobramentos dos processos que envolvem Jair Bolsonaro, especialmente no chamado inquérito do golpe, também é alvo de críticas por parte de setores mais ideológicos do bolsonarismo.
Há uma cobrança velada para que o governador se posicione de forma mais enfática em defesa do ex-presidente e de seus aliados. Até agora, Tarcísio tem mantido uma postura mais institucional, evitando embates diretos com o Supremo Tribunal Federal ou falas que possam gerar atritos com o Judiciário. Essa cautela, que o protege de desgastes, também alimenta desconfianças entre os mais leais a Bolsonaro. Ainda assim, é consenso que, diante da ausência do ex-presidente na disputa, ele pode se tornar o nome natural da direita para enfrentar Lula ou qualquer outro candidato petista em 2026.
O movimento político de Tarcísio se dá em um momento de tensão crescente entre os Poderes. A possibilidade de prisão de Jair Bolsonaro, antes tratada como improvável, já é considerada por muitos como iminente. A perseguição contra o ex-presidente, seus aliados e sua família tem alimentado o sentimento de revolta entre seus eleitores e inflamado discursos de resistência ao que é considerado por muitos uma criminalização da direita. Nesse cenário, qualquer liderança que se proponha a representar esse segmento terá de assumir não apenas um programa de governo, mas também uma postura combativa e alinhada com os princípios bolsonaristas.
O governador de São Paulo ainda tenta equilibrar os dois mundos. Por um lado, quer manter a imagem de administrador eficiente, distante das turbulências ideológicas. Por outro, sabe que sua base de apoio, caso queira concorrer nacionalmente, está no eleitor bolsonarista, que valoriza lealdade e posicionamentos firmes. A dúvida que paira é se Tarcísio conseguirá sustentar essa ambiguidade até a hora da decisão final.
Com a elevação do salário mínimo estadual, Tarcísio de Freitas não apenas atendeu a uma demanda local, mas também marcou posição no debate político nacional. Mesmo negando qualquer pretensão presidencial, ele se consolida como figura de destaque no tabuleiro da direita. Se irá ou não disputar o Planalto, só o tempo dirá. Mas o movimento foi claro o suficiente para mostrar que, se decidir entrar na corrida, já tem argumentos, base e visibilidade para ir longe.