Barroso confessa que acionou estrangeiros quando estava no comando do TSE

LIGA DAS NOTÍCIAS

Uma declaração feita pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, durante um evento em Nova York nesta terça-feira, reacendeu debates sobre a atuação internacional em assuntos internos do Brasil e o papel do Judiciário nas últimas eleições. Barroso, que presidiu o Tribunal Superior Eleitoral entre 2020 e 2022, revelou ter acionado autoridades diplomáticas dos Estados Unidos em momentos considerados críticos para o processo democrático brasileiro. Segundo ele, houve apoio explícito de Washington à estabilidade institucional do país, com destaque para manifestações públicas de confiança no sistema eleitoral nacional.


Durante sua fala, o ministro relatou que procurou diplomatas americanos em três ocasiões específicas para solicitar apoio público à democracia brasileira, em um período que coincidiu com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e com a posse do presidente norte-americano Joe Biden. Barroso afirmou que uma das respostas veio diretamente do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que se manifestou de forma favorável à condução do processo eleitoral e ao respeito às instituições democráticas do Brasil.


A confissão chamou atenção por revelar que, em meio ao ambiente polarizado das eleições e aos conflitos entre o Executivo e o Judiciário, houve articulação direta com um governo estrangeiro. Para Barroso, essa movimentação foi legítima e estratégica, especialmente por conta da influência que os Estados Unidos exercem sobre as Forças Armadas brasileiras. Em sua visão, os militares têm forte ligação com os EUA, seja pela logística, seja pelo fornecimento de equipamentos e tecnologias. Dessa forma, um posicionamento norte-americano contrário a qualquer tentativa de ruptura institucional poderia, segundo ele, surtir efeito prático e dissuasório.


Em sua exposição, Barroso também citou uma matéria publicada em junho de 2023 pelo jornal Financial Times. Segundo a reportagem, o governo dos Estados Unidos teria promovido uma “pressão silenciosa” sobre generais brasileiros e aliados de Bolsonaro, alertando que qualquer tentativa de contestar os resultados eleitorais ou deslegitimar o processo seria inaceitável. Embora Washington mantivesse um discurso público de neutralidade, nos bastidores havia uma clara mensagem de defesa da normalidade democrática.


As declarações do ministro não passaram despercebidas por setores críticos ao Supremo. Para muitos, o ato de buscar apoio internacional para influenciar a conjuntura interna pode representar uma interferência indevida na soberania nacional. A revelação de contatos frequentes com diplomatas estrangeiros em um período de acirramento político levanta questionamentos sobre os limites da atuação institucional e a transparência desses diálogos. Além disso, críticos apontam que a iniciativa contribui para aumentar a desconfiança de parte da população quanto à isenção do Judiciário em momentos decisivos da vida política do país.


Barroso também foi lembrado por episódios controversos durante sua gestão no TSE. Um dos mais marcantes foi a decisão de censurar o Jornal da Cidade Online em agosto de 2021, quando a Corte determinou a remoção de conteúdos e bloqueou todas as formas de monetização da plataforma. Até hoje, o veículo alega ter sido vítima de uma perseguição institucional e vê nas decisões do tribunal uma forma de repressão à liberdade de imprensa. A revelação de articulações internacionais, agora admitidas por Barroso, é vista por seus críticos como mais um elemento de um cenário em que a Justiça ultrapassou os limites constitucionais em nome de uma suposta estabilidade.


A fala de Barroso ocorre em um momento delicado da política nacional, em que o Supremo Tribunal Federal está no centro de debates sobre liberdade de expressão, equilíbrio entre os Poderes e responsabilidade institucional. O envolvimento com autoridades estrangeiras, ainda que justificado sob o argumento de proteção à democracia, reforça a percepção de que o Judiciário tem assumido um protagonismo excessivo na política brasileira, com consequências ainda imprevisíveis.


Ao trazer à tona o apoio recebido dos Estados Unidos, Barroso também reacende as divisões entre os que enxergam no Judiciário um baluarte contra ameaças autoritárias e aqueles que o acusam de instrumentalizar sua autoridade para minar adversários políticos e restringir liberdades fundamentais. Com a proximidade das eleições municipais e o início das articulações para 2026, declarações como essa tendem a intensificar o debate sobre o papel das instituições e os limites da atuação política de seus membros. A repercussão da fala do ministro deve continuar nos próximos dias, alimentando novos embates no já polarizado cenário nacional.


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