A medida tomada por Moraes se refere a declarações feitas por Eduardo Bolsonaro em viagens internacionais, nas quais o parlamentar teria questionado a integridade do sistema eleitoral brasileiro e criticado diretamente membros do Supremo Tribunal Federal. Para o ministro, essas falas podem configurar atos passíveis de investigação, algo que vem sendo usado como justificativa para instaurar novos inquéritos. No entanto, a decisão gerou reações contundentes de diversos setores da sociedade, especialmente entre os aliados da direita, que veem no gesto mais um sinal de perseguição política.
Waack apontou que o Brasil vive uma crise política que está sendo conduzida, ou ao menos enfrentada, por caminhos essencialmente jurídicos. Segundo ele, a tentativa de usar o sistema de justiça como mecanismo para resolver embates de natureza política é perigosa e pode comprometer os princípios fundamentais do regime democrático. O jornalista recordou que ao longo da história política brasileira, tanto atores de esquerda quanto de direita buscaram apoio internacional e denunciaram excessos das instituições, sem que isso tivesse sido tratado como crime. Ele destaca que “apelar a governos estrangeiros sempre fez parte do jogo político” e que restringir esse tipo de manifestação pode abrir um precedente danoso para a liberdade de expressão e o direito à crítica.
Nos bastidores políticos de Brasília, a decisão de Moraes foi recebida com preocupação, principalmente entre os parlamentares da oposição. Muitos veem na postura do ministro um claro sinal de ativismo judicial, em que julgamentos e decisões passam a obedecer mais a critérios políticos do que jurídicos. A avaliação é de que Moraes não apenas responde a ataques, mas também se antecipa a eles, em um movimento que é visto por críticos como um esforço para intimidar adversários e consolidar uma posição de controle sobre a narrativa pública.
Deputados da base bolsonarista se manifestaram de forma anônima para denunciar o que chamam de abuso de poder por parte do Supremo. Para esses parlamentares, não há crime em questionar autoridades ou em expressar opiniões políticas em fóruns internacionais, especialmente quando essas opiniões refletem preocupações legítimas com os rumos da democracia no país. Eles argumentam que o Judiciário não pode se tornar uma instância censora e que a atuação dos ministros precisa estar estritamente vinculada à legalidade e aos limites constitucionais.
Por outro lado, defensores da medida afirmam que Eduardo Bolsonaro ultrapassou os limites aceitáveis ao fazer críticas no exterior que, segundo eles, colocam em dúvida a legitimidade das instituições brasileiras. Na visão desses grupos, é papel do Supremo defender a imagem e a estabilidade do país diante de tentativas de deslegitimação promovidas por figuras públicas de grande projeção. Para eles, as ações de Moraes são uma resposta necessária para conter o que consideram ser uma estratégia deliberada de desinformação e de ataque à ordem democrática.
Esse novo episódio ocorre justamente em um momento de crescente tensão entre os Poderes, com o Congresso Nacional debatendo propostas para limitar os poderes do STF. Projetos de lei que pretendem restringir decisões monocráticas e delimitar o alcance dos inquéritos conduzidos por ministros da Corte estão ganhando força, enquanto o Judiciário adota uma postura mais reativa, ampliando o escopo de sua atuação e endurecendo a retórica contra adversários políticos.
Ao encerrar sua análise, William Waack enfatizou que o problema central não é a existência de investigações conduzidas pelo Supremo, mas a forma como essas investigações estão sendo conduzidas. Para ele, faltam critérios claros, transparência e respeito ao devido processo legal. O jornalista defende que o combate à desinformação e à instabilidade institucional não pode ser feito à custa de liberdades fundamentais. Segundo ele, o país precisa urgentemente reencontrar o equilíbrio entre os Poderes, garantindo que a justiça não se transforme em instrumento de disputa política.
O caso de Eduardo Bolsonaro torna-se, assim, um símbolo das profundas fraturas que marcam a política nacional. A decisão de Alexandre de Moraes, ao invés de pacificar o ambiente, parece ter aprofundado ainda mais o fosso entre Judiciário e oposição, em um cenário onde a confiança nas instituições está cada vez mais fragilizada.