De acordo com Nikolas Ferreira, Janja teria se reunido com representantes do governo chinês para solicitar uma colaboração que visaria censurar brasileiros que utilizam o TikTok, em especial aqueles considerados críticos ao atual governo. A iniciativa, segundo o deputado, aconteceu apesar de Janja não ocupar nenhum cargo público oficial, o que agrava ainda mais, na visão dele, o caráter irregular da atitude. O parlamentar afirma que, logo após essa reunião, a Advocacia-Geral da União passou a se mobilizar para tirar do Congresso o debate sobre a regulamentação das redes sociais e levá-lo diretamente ao Supremo Tribunal Federal. Para ele, essa sequência de acontecimentos deixa evidente uma manobra coordenada para esvaziar o papel do Legislativo e transferir o poder de decisão a uma instância que não possui prerrogativa para legislar.
Nikolas classifica essa movimentação como um atentado à separação dos poderes e à ordem institucional do país. Em sua avaliação, a atuação da primeira-dama viola o princípio da legalidade e representa um risco à soberania nacional, já que envolve um pedido de colaboração a uma potência estrangeira em um tema extremamente sensível. Para o deputado, permitir que figuras não eleitas ou sem qualquer função oficial participem ativamente de decisões estratégicas fere os fundamentos do Estado Democrático de Direito e sinaliza uma perigosa centralização de poder por vias informais e, portanto, ilegítimas.
A crítica de Nikolas também se estende à condução política do governo Lula, que segundo ele estaria utilizando agentes paralelos para pressionar instituições e consolidar uma agenda autoritária sob o pretexto de combate à desinformação. O parlamentar vê com desconfiança o alinhamento cada vez mais estreito entre o Executivo e o Judiciário, apontando que a transferência de pautas legislativas para o STF transforma o tribunal em uma espécie de legislador substituto, enfraquecendo a representatividade popular garantida pelo Congresso Nacional.
A denúncia contra Janja também serviu como gancho para Nikolas Ferreira comparar a situação com o caso do deputado Eduardo Bolsonaro, atualmente licenciado do mandato. Eduardo é alvo de um inquérito aberto a partir de declarações feitas durante uma viagem aos Estados Unidos, em que teria criticado ministros do Supremo Tribunal Federal e pedido apoio para sanções. Nikolas aponta uma disparidade gritante no tratamento dado aos dois episódios. De um lado, afirma ele, um parlamentar eleito que expressa sua opinião no exterior é alvo de investigação judicial; de outro, uma figura sem mandato, nem função pública, que faz articulações diretas com autoridades estrangeiras em nome de políticas internas, segue sem qualquer tipo de responsabilização.
Essa comparação, segundo Nikolas, evidencia um viés claro nas ações das instituições brasileiras, onde membros ligados à oposição sofrem consequências imediatas por suas falas, enquanto aliados do governo operam livremente, ainda que à margem da legalidade. O deputado acusa as autoridades de usarem dois pesos e duas medidas, o que, em sua visão, aprofunda a crise institucional e mina a confiança da população nas estruturas democráticas do país.
A ação judicial que será movida contra Janja pretende cobrar explicações sobre a reunião com o governo chinês, além de investigar se houve qualquer tipo de colaboração formal ou informal para controle de conteúdo nas redes sociais. Nikolas alega que o povo brasileiro tem o direito de saber quem está tomando decisões que afetam diretamente sua liberdade de expressão, e que esse tipo de conduta não pode passar despercebido sob o manto da informalidade ou da suposta influência simbólica da primeira-dama.
O episódio reacende o debate sobre os limites da atuação de figuras públicas sem mandato e o papel do Congresso na defesa de sua prerrogativa constitucional de legislar. Para muitos parlamentares da oposição, o caso de Janja é emblemático de uma nova forma de atuação política indireta, onde agentes do entorno do poder tomam para si funções que deveriam ser exclusivas de representantes eleitos. O desfecho dessa ação na Justiça poderá trazer consequências importantes para o equilíbrio entre os Poderes e para a definição dos limites entre representação formal e influência política no mais alto escalão do governo.