O recuo de Helena Lima ocorre em meio a revelações que levantam questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse. Segundo informações publicadas pelo portal Metrópoles, a deputada possui uma participação societária de 10% na empresa Voare Táxi Aéreo, conforme declarado por ela ao Tribunal Superior Eleitoral. A empresa tem contratos milionários firmados com o governo federal sob a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo um acordo recente com o Ministério da Saúde no valor de R$ 15,8 milhões. O contrato, com duração de um ano, prevê o fornecimento de serviços de transporte aéreo para o Sistema Único de Saúde, especialmente em áreas de difícil acesso como a região Yanomami.
Além de sócia da empresa, Helena Lima é esposa do empresário Renildo Evangelista Lima, proprietário majoritário da Voare. Renildo foi preso pela Polícia Federal em setembro de 2024 após ser flagrado com dinheiro escondido na cueca durante uma operação de combate à corrupção. A prisão foi amplamente divulgada e teve forte repercussão pública. Mesmo após o episódio, a Voare seguiu firmando contratos com o governo e recebendo recursos vultosos. De acordo com o colunista Igor Gadelha, também do Metrópoles, a empresa já acumulou repasses que somam mais de R$ 610 milhões da União, além de ter sido beneficiada com isenções fiscais superiores a R$ 11 milhões e cerca de R$ 3 milhões em emendas parlamentares.
O líder do Partido Liberal na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, que está à frente da articulação pelo andamento rápido do projeto de anistia, afirmou que não recebeu nenhuma justificativa formal de Helena para a retirada de sua assinatura. Entretanto, ele acredita que a decisão tenha sido motivada por pressões políticas do Palácio do Planalto, que estaria atuando para esvaziar a iniciativa, que conta com apoio significativo entre os parlamentares de oposição e parte da base governista.
O projeto em questão busca conceder anistia aos condenados pelos atos ocorridos em Brasília no início de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes, em protesto contra os resultados das eleições presidenciais. A proposta tem sido alvo de intensos debates e enfrenta resistência por parte de setores do Judiciário, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que conduz a maioria dos processos relacionados aos envolvidos nos atos.
Apesar da desistência de Helena Lima, o pedido de urgência já contava, até o momento da formalização, com 262 assinaturas, sendo 146 de deputados pertencentes a partidos que compõem a base do governo Lula. Isso representa 56% do total de apoiadores da proposta. Partidos como União Brasil, Progressistas, Republicanos, PSD e o próprio MDB contribuíram com o maior número de assinaturas, indicando uma divisão interna quanto ao posicionamento em relação à anistia.
Diante da possibilidade de outras deserções após o recuo de Helena, Sóstenes decidiu antecipar o protocolo do requerimento para o dia 14 de abril, mesmo antes da reunião de líderes inicialmente marcada para o dia 24. A estratégia visou garantir o avanço da matéria na Câmara e evitar novos recuos de deputados que poderiam ser alvo de pressões semelhantes às que, segundo bastidores, afetaram a parlamentar do MDB.
A situação de Helena Lima e sua ligação empresarial com o governo federal alimenta questionamentos sobre a transparência nas relações entre o setor público e privado. Sua participação societária em uma empresa que tem obtido contratos milionários com a administração que ela, teoricamente, deveria fiscalizar como parlamentar, suscita discussões sobre limites éticos e a necessidade de um maior rigor na verificação de potenciais conflitos de interesse dentro do Congresso Nacional.
A controvérsia envolvendo o nome da deputada, somada ao histórico recente de seu marido, amplia o debate sobre a integridade nas esferas política e empresarial. Ao mesmo tempo, adiciona um novo capítulo na já turbulenta trajetória do projeto de anistia, que segue enfrentando resistências judiciais, políticas e sociais. Enquanto isso, os próximos passos da tramitação legislativa e as eventuais consequências da decisão de Helena Lima ainda são imprevisíveis, mas prometem continuar gerando desdobramentos nos bastidores do poder em Brasília.