Renata Abreu integra um grupo de parlamentares que apoia a chamada “modulação” das penas — ou seja, a concessão de penas mais brandas para aqueles que participaram dos atos com menor grau de gravidade. No entanto, sua decisão de retirar o apoio sinaliza um enfraquecimento desse movimento moderado dentro do Congresso. O projeto em questão busca conceder anistia a centenas de envolvidos nos atos considerados antidemocráticos, que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
De acordo com o Regimento Interno da Câmara, não é permitido retirar nem adicionar assinaturas após o protocolo de um projeto de lei. Ainda assim, se metade dos 132 deputados que originalmente assinaram o requerimento de urgência decidirem, em bloco, pela retirada simbólica do apoio, o pedido perde sua validade. Esse tipo de articulação política tem sido usada como instrumento para esvaziar projetos polêmicos e, neste caso específico, tem o objetivo de isolar a bancada do PL, principal defensora da anistia.
Nos bastidores, a movimentação da deputada Renata Abreu é vista como um alívio para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PA), que tem evitado pautar o requerimento de urgência do projeto. A recusa de Motta em acelerar a tramitação da proposta já havia causado descontentamento entre alguns parlamentares alinhados à oposição. Com a retirada de apoio por parte de líderes partidários, o presidente da Câmara ganha mais margem para sustentar sua decisão de manter o projeto fora da pauta por tempo indeterminado.
A bancada do Partido dos Trabalhadores (PT), por sua vez, vem promovendo uma ofensiva nos corredores da Câmara para convencer mais deputados a seguirem o mesmo caminho de Renata Abreu. A estratégia da base governista é clara: enfraquecer a base de apoio do projeto e forçar o recuo de parlamentares que ainda se mostram favoráveis à proposta. O Palácio do Planalto, inclusive, tem se empenhado diretamente nesse processo de articulação política, evidenciando o peso institucional que o tema tem assumido.
A decisão de Renata Abreu não ocorre em um vácuo político. Ela acontece em meio a um contexto de crescente polarização em torno do tratamento dado aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. De um lado, há quem defenda penas exemplares para todos os envolvidos, independentemente do grau de participação. De outro, há parlamentares que argumentam que muitos dos participantes foram apenas influenciados por discursos inflamados e que, por isso, não deveriam ser punidos com o mesmo rigor dos organizadores e financiadores dos atos.
Essa divisão também reflete os desafios enfrentados pelo sistema político brasileiro ao lidar com episódios que colocam em xeque a estabilidade democrática. A proposta de anistia, desde o início, provocou reações intensas tanto no Congresso quanto entre setores da sociedade civil, que temem que uma eventual anistia possa criar um precedente perigoso e desestimular a responsabilização por atos antidemocráticos.
Enquanto o projeto segue sem previsão de votação, cresce a expectativa sobre os próximos passos dos parlamentares que ainda sustentam a proposta. O movimento de Renata Abreu pode desencadear uma reação em cadeia, com outros deputados reavaliando publicamente sua posição. Ao mesmo tempo, a base do PL e seus aliados tentam manter o discurso de que a anistia é necessária para pacificar o país e evitar novas divisões políticas.
A tensão permanece elevada e deve continuar nos próximos dias. Com o cenário político em constante mutação, novas retiradas simbólicas podem enfraquecer ainda mais a proposta, empurrando-a para a gaveta de projetos polêmicos que jamais chegaram ao plenário. Por ora, a atitude de Renata Abreu se consolida como mais um capítulo emblemático na complexa relação entre o Legislativo e os desdobramentos dos atos de 8 de janeiro.