A proposta de anistia, defendida por setores da oposição e parlamentares ligados à base conservadora, busca perdoar atos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que participaram de manifestações e outros eventos considerados antidemocráticos. Os defensores do projeto alegam que se trata de um gesto de pacificação nacional, argumentando que houve exageros por parte do Judiciário e do Ministério Público. No entanto, o governo federal enxerga com preocupação o avanço da medida, considerando-a uma ameaça direta à integridade das instituições democráticas.
Segundo fontes próximas ao núcleo do governo, o presidente Lula e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, pretendem utilizar o jantar para alertar os deputados sobre os riscos jurídicos e políticos envolvidos na aprovação da proposta. A avaliação interna é de que a medida, se aprovada, beneficiaria diretamente Bolsonaro, atualmente réu no inquérito que apura sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado. O governo teme que a anistia seja percebida como um salvo-conduto para crimes contra a democracia, abrindo espaço para a normalização de condutas antidemocráticas.
O ambiente no Congresso é de alta tensão. A proposta tem provocado divisões profundas entre os parlamentares. Enquanto a oposição tenta pressionar pela votação em regime de urgência, o governo se movimenta nos bastidores para impedir que o requerimento avance. A estratégia do Planalto inclui o uso da fila extensa de mais de dois mil pedidos de urgência pendentes na Câmara como justificativa técnica para atrasar a tramitação do projeto. A intenção é evitar que a proposta entre em pauta antes que o governo consiga consolidar uma base sólida de resistência.
Apesar da gravidade do momento, o governo tem evitado adotar um tom de confronto público. Em declarações recentes, Gleisi Hoffmann afirmou que o Executivo não está empenhado em uma operação de retaliação, mas sim de esclarecimento. Segundo ela, o foco está em demonstrar aos parlamentares os impactos institucionais de aprovar uma medida que pode comprometer os pilares do Estado Democrático de Direito. Nos bastidores, porém, o clima é de apreensão. Há o temor de que a proposta ganhe tração e que o governo seja surpreendido por uma articulação política adversa.
O jantar com Hugo Motta se insere em uma estratégia mais ampla de reaproximação do presidente Lula com os principais atores do Legislativo. Em março, o presidente já havia promovido um encontro similar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em um gesto que sinaliza a busca por uma governabilidade mais estável e menos suscetível a rupturas. A leitura no Planalto é que, diante de um Congresso fragmentado e polarizado, o diálogo constante com as lideranças das Casas é essencial para evitar surpresas e garantir o avanço de pautas prioritárias.
Além das implicações políticas internas, o avanço ou recuo do PL da Anistia também está sendo observado com atenção por agentes do mercado e analistas internacionais. O projeto é visto como um termômetro da estabilidade democrática brasileira e da capacidade do governo Lula de manter o controle sobre sua base aliada. Uma eventual aprovação do projeto pode ser interpretada como um sinal de enfraquecimento do Executivo, enquanto sua rejeição consolidaria a liderança do presidente em meio a um ambiente político turbulento.
Enquanto isso, a oposição segue mobilizada para pressionar a presidência da Câmara a acelerar a tramitação do projeto. Deputados bolsonaristas utilizam as redes sociais e articulações nas comissões para construir uma narrativa favorável à anistia, reforçando o discurso de que o país precisa virar a página dos conflitos políticos recentes. Já o governo corre contra o tempo, tentando minar apoios e desarticular a base de sustentação do projeto antes que ele se torne inevitável.
Com os olhos voltados para o jantar entre Lula e Hugo Motta, Brasília vive dias de expectativa. A depender do resultado desse encontro, o destino do PL da Anistia poderá tomar um novo rumo. Se o governo for bem-sucedido em sua articulação, sairá fortalecido em sua capacidade de negociação e preservação institucional. Caso contrário, terá que lidar com os impactos simbólicos e políticos de uma derrota que pode marcar profundamente o curso de seu segundo mandato.
O cenário segue imprevisível, e as movimentações dos próximos dias serão decisivas.