No último domingo, 13 de abril, Jason Miller, conselheiro próximo de Trump, fez declarações incisivas contra o magistrado brasileiro, classificando-o como “a maior ameaça à democracia no hemisfério ocidental”. Miller já teve atritos diretos com Moraes. Em 2021, durante uma visita ao Brasil para participar do CPAC — evento voltado à direita conservadora —, foi detido pela Polícia Federal no aeroporto de Brasília por ordem do ministro. Embora não tenha sido formalmente acusado de nenhum crime, Miller relatou que ele e sua equipe foram interrogados por cerca de três horas antes de serem liberados. Em entrevistas concedidas posteriormente, o conselheiro chegou a comparar Moraes a um “vilão de James Bond”.
As possíveis sanções, ainda em fase inicial de análise, passam por várias esferas do governo americano. O Departamento de Estado, atualmente sob liderança do senador Marco Rubio, está encarregado de examinar a questão do ponto de vista diplomático. Rubio, que já criticou duramente o bloqueio de perfis em redes sociais imposto por Moraes, vê as ações do ministro como uma afronta às liberdades civis e ao livre discurso. Segundo fontes próximas à diplomacia americana, a atuação de Moraes durante os últimos anos tem gerado crescente preocupação nos setores republicanos mais conservadores dos EUA.
Outro órgão envolvido na análise é o Conselho de Segurança Nacional, coordenado por Mike Waltz, político de perfil linha-dura e com histórico de forte oposição à China. Waltz tem acompanhado com atenção o comportamento de países que mantêm laços estreitos com o regime chinês, o que inclui o Brasil em certos aspectos da política externa atual. A leitura de Waltz é que a centralização de poder nas mãos de determinadas autoridades judiciais, como seria o caso de Moraes, pode abrir brechas para práticas autoritárias e para o enfraquecimento das instituições democráticas.
O Departamento do Tesouro também tem papel relevante nessa equação. Cabe a esse órgão avaliar possíveis impactos econômicos de eventuais sanções financeiras, tanto sobre o próprio Moraes quanto sobre o relacionamento bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil. As consequências econômicas e diplomáticas de uma medida desse porte são amplamente discutidas entre assessores do alto escalão do governo Trump, que pretendem evitar decisões precipitadas.
O processo, considerado complexo, é finalizado somente após a avaliação e parecer técnico de cada uma dessas instituições. Depois disso, as recomendações são encaminhadas ao Conselho da Casa Branca, responsável por garantir que qualquer decisão esteja em conformidade com as leis nacionais dos EUA e com tratados internacionais. Só então a decisão final será apresentada ao presidente Donald Trump, que deverá deliberar com base nas análises jurídicas, políticas e econômicas.
Para aprofundar a compreensão da situação brasileira e obter mais detalhes sobre o papel de Moraes no atual cenário político do Brasil, integrantes do governo Trump teriam buscado diálogo com o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, e com o comentarista político Paulo Figueiredo. Ambos são críticos contundentes do Supremo Tribunal Federal e aliados de longa data de Trump, com quem compartilham ideais nacionalistas e conservadores.
A possibilidade de sanções contra um magistrado de um país aliado e democrático como o Brasil é vista como um movimento inusitado, mas não inédito na política externa norte-americana, especialmente sob administrações de perfil mais combativo como a atual. Apesar de o Brasil ser parceiro estratégico dos Estados Unidos, a crescente tensão institucional no país sul-americano e o protagonismo de figuras como Moraes têm despertado críticas severas em setores do governo e da sociedade americana.
O caso segue em análise e ainda não há previsão de uma decisão definitiva. No entanto, fontes ligadas ao governo Trump afirmam que a movimentação é séria e pode ganhar força nas próximas semanas, especialmente diante da aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, quando temas ligados à liberdade de expressão e combate ao globalismo devem dominar o debate público.