De acordo com a senadora, a postura inerte do ministro contribuiu diretamente para a continuidade do esquema, que se tornou ainda mais lesivo aos cofres públicos. Em sua representação, Damares afirma que o silêncio e a falta de ação de Lupi diante das evidências configuram crime de responsabilidade. Ela sustenta que o ministro ignorou alertas importantes sobre descontos indevidos nos benefícios previdenciários, o que, em sua visão, caracteriza uma falha grave na gestão da pasta.
Para embasar o pedido, Damares apresentou o nome de quatro testemunhas que podem confirmar as discussões realizadas no CNPS sobre os descontos não autorizados. São eles: os conselheiros Tonia Galleti e Hélio Queiroz, a auditora do Tribunal de Contas da União Sibele Farias Marchesani e o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho. Todos estariam a par da situação e poderiam contribuir para esclarecer se houve, de fato, negligência por parte de Carlos Lupi.
Ainda nesta terça-feira, o ministro compareceu à Comissão de Previdência Social da Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre as denúncias. Durante a audiência, Lupi afirmou que o esquema de desvios era praticado por "algumas entidades" específicas e negou qualquer envolvimento ou omissão. Ele defendeu sua permanência no cargo e a continuidade do PDT na Esplanada dos Ministérios, mesmo diante da investigação em curso conduzida pela Polícia Federal. Segundo ele, as medidas necessárias já estão sendo tomadas internamente para apurar os casos e corrigir as falhas.
Damares Alves também esteve presente na reunião da Comissão, mas não conseguiu discursar devido à ordem de inscrições já preenchida por parlamentares interessados em questionar o ministro. Ainda assim, a senadora reiterou publicamente sua intenção de levar o pedido de impeachment adiante e comunicou que também pretende informar formalmente o presidente nacional do PDT, partido de Lupi, sobre a medida adotada.
O caso ganhou repercussão nacional nas últimas semanas após a deflagração de uma operação da Polícia Federal que revelou o pagamento de propinas milionárias por parte de associações que atuam junto ao INSS. Essas entidades estariam envolvidas na aplicação de descontos indevidos diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas, sem autorização prévia dos segurados. As investigações apontam que servidores públicos teriam facilitado os desvios em troca de vantagens financeiras.
O impacto do escândalo não se limita aos prejuízos financeiros causados ao INSS e aos beneficiários, mas também levanta dúvidas sobre a fiscalização e os mecanismos de controle interno do ministério. A ausência de providências, mesmo após alertas documentados, é o principal ponto levantado por Damares Alves para justificar o pedido de afastamento de Carlos Lupi. Segundo ela, o ministro não poderia alegar desconhecimento diante das evidências apresentadas nas reuniões do CNPS.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, será responsável por analisar o conteúdo da representação e decidir se há elementos suficientes para dar continuidade ao processo de impeachment. Caso aceite a denúncia, o processo pode seguir para o Senado Federal, onde será analisado pelos parlamentares conforme prevê a legislação vigente.
Enquanto isso, o governo federal acompanha com cautela os desdobramentos da situação. Embora o ministro tenha afirmado que não pretende deixar o cargo e tenha reiterado sua confiança na Justiça, o episódio já provoca embaraços políticos para o Palácio do Planalto. O PDT, por sua vez, ainda não se manifestou oficialmente sobre o pedido de impeachment de um de seus principais representantes no governo.
O caso permanece em investigação e pode se tornar um dos principais focos de atenção nos próximos meses, tanto no âmbito jurídico quanto no cenário político, dada a gravidade das acusações e o possível envolvimento de agentes públicos em um esquema de corrupção que atinge diretamente uma das áreas mais sensíveis da administração pública: a Previdência Social.