INSS: sindicato que tem irmão de Lula arrecadou R$ 259 milhões desde 2019

LIGA DAS NOTÍCIAS

A Polícia Federal divulgou um relatório que levanta questionamentos sobre a atuação do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), presidido por figuras próximas ao governo federal. Um dos principais nomes citados é José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ocupa o cargo de vice-presidente da entidade. A investigação aponta um expressivo aumento na arrecadação do sindicato, que saltou de R$ 17 milhões em 2019 para R$ 90 milhões em 2023, totalizando R$ 259 milhões ao longo de cinco anos.


Esse crescimento repentino, segundo a Polícia Federal, não acompanha os padrões de arrecadação observados em outras entidades semelhantes, especialmente durante o período mais agudo da pandemia de Covid-19, quando a maioria das organizações enfrentou uma queda nas receitas. No entanto, o Sindnapi apresentou comportamento oposto. Entre 2020 e 2021, por exemplo, a arrecadação passou de pouco mais de R$ 22 milhões para quase R$ 40 milhões, um aumento de 78%, mesmo diante de restrições econômicas generalizadas e diminuição do número de contribuintes ativos.


O relatório ainda destaca que parte desses valores foi obtida por meio de descontos aplicados diretamente nos benefícios pagos pelo INSS aos aposentados e pensionistas. A PF aponta que o sindicato, com sede em São Paulo, não apresentava documentação suficiente que comprovasse a autorização formal dos beneficiários para esses descontos. Outro ponto levantado é a ausência de validação biométrica confiável, sugerindo falhas no controle e na verificação da identidade dos associados, o que pode ter facilitado possíveis fraudes.


A operação que investiga essas irregularidades faz parte de um esforço mais amplo para apurar fraudes no sistema previdenciário brasileiro, com foco em práticas ilícitas envolvendo entidades de representação e servidores públicos. Recentemente, o tema ganhou relevância no Congresso, onde lideranças da oposição classificaram o caso como uma das prioridades para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A proposta da CPI do INSS já conta com apoio significativo entre os deputados, que veem na investigação uma oportunidade para expor possíveis esquemas e rever os critérios de repasse e autorização de descontos previdenciários.


O próprio sindicato emitiu nota após o início das investigações, afirmando apoiar os trabalhos da Polícia Federal e defendendo uma apuração séria e transparente dos fatos. A entidade reconheceu que a investigação pode contribuir para identificar falhas operacionais, corrigir procedimentos internos e evitar que erros semelhantes ocorram no futuro. Ainda assim, o envolvimento do irmão do presidente da República no alto escalão da entidade trouxe implicações políticas ao caso, levantando críticas e especulações por parte da oposição e de setores da sociedade civil.


Além disso, o relatório da Polícia Federal menciona que durante o período analisado, membros do sindicato e pessoas envolvidas nas fraudes acumulavam patrimônio incompatível com seus rendimentos declarados, incluindo empresas, veículos de luxo e joias. Esse detalhe reforça a suspeita de que os recursos arrecadados podem ter sido usados indevidamente, desviando-se do propósito original de prestar assistência aos aposentados.


O caso do Sindnapi não é isolado. Ele faz parte de um escândalo mais amplo envolvendo possíveis desvios bilionários no sistema do INSS, que também está sob escrutínio após revelações sobre uma fraude estimada em mais de R$ 6 bilhões em benefícios indevidamente concedidos. As investigações incluem a atuação de intermediários, falsificação de documentos e manipulação de sistemas para burlar critérios de concessão de aposentadorias e pensões.


Com o avanço das investigações, a pressão política sobre o governo deve aumentar. A relação entre a presidência da República e o sindicato investigado pode ser explorada como instrumento de desgaste por adversários políticos. O Planalto, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre o caso específico de Frei Chico, que já foi alvo de controvérsias em governos anteriores.


O desenrolar dos fatos ainda está em curso, e a expectativa é que novas diligências da Polícia Federal revelem mais detalhes sobre a cadeia de responsabilidades envolvidas. Enquanto isso, cresce a cobrança por maior fiscalização sobre entidades que intermediam descontos em benefícios previdenciários, bem como por uma reforma nas regras de relacionamento entre o INSS e as associações que atuam junto a aposentados e pensionistas.

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