Em uma reviravolta que pegou muitos de surpresa no cenário político nacional, a Procuradoria-Geral da República apresentou uma denúncia formal ao Supremo Tribunal Federal contra o atual ministro das Comunicações do governo Lula, Juscelino Filho. A medida ocorre após meses de investigações conduzidas pela Polícia Federal, que apontam o envolvimento direto do ministro em uma série de irregularidades ligadas ao desvio de verbas públicas. A denúncia, assinada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, agora será analisada pelo STF, que decidirá se aceita ou não a acusação, o que transformaria o ministro em réu.
O cerco ao ministro se intensificou após a conclusão de um relatório da Polícia Federal, divulgado em junho do ano passado, no qual Juscelino foi formalmente indiciado por uma série de crimes, entre eles corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e fraudes em licitações. O foco principal das apurações recaiu sobre desvios em obras de pavimentação no município de Vitorino Freire, no interior do Maranhão. A cidade é administrada pela irmã de Juscelino, Luanna Rezende, que chegou a ser afastada do cargo durante o avanço das investigações, embora tenha sido reconduzida posteriormente.
Segundo o levantamento da PF, pelo menos oitocentos e trinta e cinco mil reais teriam sido desviados em contratos envolvendo a Codevasf, estatal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. As verbas públicas foram destinadas a obras que supostamente beneficiaram propriedades da própria família do ministro. A Controladoria-Geral da União também apontou evidências de favorecimento direto, reforçando o conteúdo da denúncia agora encaminhada ao Supremo.
As conexões entre Juscelino Filho e empresários envolvidos no esquema ficaram ainda mais claras após a análise do celular de Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo DP, investigado na Operação Odoacro. A empresa Construservice, pivô do esquema, estaria sob controle oculto de Eduardo, que manteve comunicações frequentes com Juscelino sobre os contratos e repasses. As mensagens trocadas foram consideradas pela PF como provas contundentes de que o ministro atuava com protagonismo na organização.
No relatório enviado ao STF, os investigadores afirmam que a relação criminosa entre Juscelino e Eduardo DP não deixa dúvidas sobre o grau de envolvimento do ministro. As conversas demonstrariam uma articulação prévia para a manipulação de processos licitatórios e execução de obras em benefício próprio. A denúncia agora representa mais um abalo para a credibilidade do governo federal, que vem enfrentando uma série de desgastes nos últimos meses.
A defesa do ministro reagiu à denúncia por meio de nota pública, alegando que ainda não foi oficialmente comunicada da ação. Criticou o que classificou como uma tentativa de espetacularização por parte do Ministério Público, ao priorizar a divulgação midiática em detrimento da tramitação legal adequada. Os advogados de Juscelino afirmam que ele é inocente e que as acusações não passam de especulações que se arrastam sem provas conclusivas há mais de três anos. Argumentam ainda que sua atuação parlamentar esteve sempre pautada na indicação de emendas para obras públicas de interesse da população.
Apesar da tentativa de minimizar os efeitos da denúncia, o episódio já repercute fortemente nos bastidores de Brasília. Integrantes da base aliada demonstram preocupação com o impacto político que a acusação pode ter sobre a estabilidade do governo Lula. Há também especulações sobre possíveis desdobramentos, como novas investigações envolvendo outros nomes ligados ao grupo político de Juscelino.
A relação próxima do ministro com figuras influentes do governo torna a situação ainda mais delicada. Alguns analistas já apontam que, caso o STF aceite a denúncia e Juscelino se torne réu, o governo pode ser pressionado a afastá-lo definitivamente do cargo, mesmo que ainda não haja condenação judicial. Isso porque o peso político da acusação, somado ao histórico das investigações, fragiliza sua permanência à frente da pasta.
Este não é o primeiro episódio envolvendo ministros de Lula em polêmicas. Desde o início do mandato, o presidente já precisou lidar com diversos ruídos em sua equipe, o que vem alimentando críticas da oposição e gerando desconforto até mesmo dentro da própria esquerda. O caso de Juscelino, no entanto, ganha contornos ainda mais graves por envolver uma denúncia direta da Procuradoria-Geral da República, respaldada por extensas investigações da Polícia Federal e relatórios técnicos da CGU.
Enquanto aguarda a decisão do STF sobre o futuro de Juscelino Filho, o governo se vê diante de mais um teste de integridade e articulação política. A denúncia, por si só, já representa um abalo considerável à imagem de uma gestão que tenta se manter de pé em meio a uma sucessão de crises e desafios.