Erika recebe visto masculino para EUA e chama Trump de “doente”

LIGA DAS NOTÍCIAS

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) se envolveu em uma polêmica internacional ao cancelar uma viagem oficial aos Estados Unidos após receber um visto com designação de gênero masculina. Erika, que é uma mulher transexual, classificou o episódio como um ato de transfobia institucional promovido pelo governo norte-americano. A parlamentar afirmou que pretende denunciar o caso à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), considerando que teve seus direitos civis violados de forma explícita por uma medida arbitrária que ignora sua identidade de gênero legalmente reconhecida no Brasil.


Segundo Erika, o visto emitido pelo Departamento de Estado dos EUA ignorou registros civis válidos e atualizados, substituindo sua identidade de gênero feminina por uma designação masculina. A parlamentar relatou que já havia obtido anteriormente um visto com o gênero correto, o que torna o novo documento ainda mais inaceitável. Em sua avaliação, o caso representa não apenas uma violação pessoal, mas uma postura oficial do atual governo norte-americano contra pessoas trans. Ela atribui o ocorrido diretamente à nova política de Donald Trump, que desde o início de seu novo mandato, em 2025, adotou medidas que limitam o reconhecimento de identidades de gênero diversas em documentos federais.


Erika afirmou que ficou temerosa com a possibilidade de ser submetida a constrangimentos ao chegar em solo norte-americano com um documento que não refletia sua identidade. Por esse motivo, decidiu cancelar a viagem, que teria fins oficiais. Para a deputada, seria inadmissível legitimar esse tipo de violência simbólica e institucional. Ela lamentou ter que se ausentar de compromissos internacionais importantes, mas reiterou que sua dignidade e integridade estavam em primeiro lugar.


Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Erika foi enfática ao criticar o ex-presidente e atual chefe de Estado dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem chamou de "doente" e "alucinado". Segundo ela, a nova diretriz de Trump, que determina que documentos federais reconheçam apenas o sexo biológico, é uma afronta aos direitos humanos e aos tratados internacionais dos quais os EUA são signatários. A deputada acredita que a política adotada pelo republicano representa um retrocesso civilizatório, que ameaça diretamente os princípios democráticos e os avanços em matéria de inclusão e diversidade.


A repercussão do caso no Brasil foi imediata. Políticos e ativistas de esquerda demonstraram apoio à deputada, considerando o episódio uma violação clara dos direitos das pessoas trans. Parlamentares exigiram que o Itamaraty intervenha junto ao governo norte-americano e pressione por uma explicação oficial. A expectativa é que o embaixador dos EUA no Brasil seja convocado para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido. Caso isso se concretize, poderá haver repercussões diplomáticas, ainda que esse tipo de convocação seja relativamente incomum.


Em contrapartida, setores da direita brasileira reagiram com sarcasmo e desdém. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), conhecido por suas posições conservadoras, ironizou a situação em suas redes sociais, sugerindo que a biologia havia “vencido mais uma vez”. A atitude foi amplamente criticada por internautas e por organizações de defesa dos direitos LGBTQIA+, que acusaram o parlamentar de propagar discursos de ódio e reforçar o preconceito institucional.


Juristas e especialistas em relações internacionais alertam que o episódio pode representar um momento de tensão nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, principalmente se houver movimentações formais por parte do governo brasileiro. A possível denúncia do caso às instâncias internacionais também coloca em xeque a imagem dos EUA como defensor global dos direitos humanos, especialmente em um momento em que o país é liderado por um governo de inclinação fortemente conservadora.


O caso envolvendo Erika Hilton ultrapassa o campo das relações diplomáticas e toca em questões sensíveis que envolvem identidade, respeito, liberdade e soberania. Em um contexto global marcado por crescentes polarizações políticas e culturais, episódios como este refletem os desafios enfrentados por pessoas trans ao redor do mundo e levantam debates urgentes sobre os limites entre decisões soberanas e o compromisso internacional com os direitos civis e humanos. Para Erika, a luta está apenas começando, e ela promete continuar denunciando e combatendo aquilo que considera uma ameaça à dignidade e à liberdade de milhões de pessoas trans ao redor do planeta.

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