Uma das questões levantadas por Fux foi sua dúvida sobre a diferença entre um crime tentado e um crime consumado, uma distinção fundamental que pode impactar o julgamento. Para o ministro, essa distinção jurídica merece mais reflexão e, possivelmente, será um dos principais focos dos debates à medida que o processo avança. Embora tenha se alinhado à maioria para autorizar a continuidade do processo, ele se mostrou cauteloso, afirmando que questões complexas ainda precisariam ser detalhadamente analisadas durante o curso da instrução.
Além disso, Fux fez observações críticas sobre a severidade das penas aplicadas aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Esse evento, conforme destacado pela Procuradoria-Geral da República, seria a culminação de uma tentativa de golpe orquestrada por figuras próximas ao então presidente Bolsonaro. Fux também expressou preocupações em relação à delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que tem sido um dos elementos centrais da investigação. O ministro questionou a veracidade e o valor das declarações feitas por Cid, mencionando que, em sua opinião, nove delações de um único colaborador deveriam ser tratadas com cautela, pois frequentemente surgem novas informações, o que poderia fragilizar o conjunto de provas.
O julgamento teve como um dos pontos centrais a definição sobre a continuidade do processo, que envolvia oito pessoas, incluindo Bolsonaro. Ao fim da sessão, ficou decidido que a denúncia seria aceita, o que configura um passo importante para o processo de responsabilização legal. A decisão de Fux seguiu a linha de seus colegas, que demonstraram apoio à abertura da ação penal contra o ex-presidente e os outros denunciados. No entanto, o ministro fez questão de deixar claro que, em sua opinião, a competência do STF para julgar o caso era questionável. Fux sugeriu que, como os acusados não ocupam mais cargos públicos, o processo deveria ser conduzido na primeira instância, uma divergência com os outros membros da Corte.
O julgamento também incluiu uma análise da evidência apresentada pela defesa e pela acusação, que seguirá seu curso na fase de instrução. O ministro Fux, apesar de seu voto favorável ao recebimento da denúncia, indicou que sua decisão estava longe de ser definitiva, e que muitos dos aspectos do processo precisavam de uma investigação mais aprofundada. Ele destacou a importância de se examinar com cuidado todos os indícios de autoria e materialidade antes de chegar a um julgamento final. As declarações de Fux, embora alinhadas com a posição da maioria dos ministros, revelam uma postura analítica e cautelosa, sugerindo que o desfecho do processo dependerá de um exame mais detalhado das provas e argumentos apresentados durante a instrução.
O julgamento seguirá seu curso, com a expectativa de que mais provas sejam apresentadas nos próximos meses, e a decisão de culpa ou inocência de Bolsonaro e outros réus seja tomada por volta de outubro. O desfecho deste processo será aguardado com grande atenção, pois poderá definir não apenas a responsabilidade do ex-presidente no episódio do 8 de janeiro, mas também influenciar a visão pública sobre o papel das instituições e do Poder Judiciário na contenção de crises políticas no Brasil.
A análise de Fux trouxe à tona, portanto, não só as dúvidas jurídicas que podem moldar o andamento do caso, mas também a necessidade de um exame rigoroso dos fatos e das provas que sustentam a acusação contra Bolsonaro. Embora o STF tenha seguido com o recebimento da denúncia, a possível divergência de Fux, em temas chave como a natureza do crime e a aplicabilidade das penas, promete ser um elemento relevante no desenvolvimento desse processo legal.