O nome de Alexandre de Moraes passou a ser observado com especial atenção por integrantes do movimento conservador internacional devido à sua atuação enfática no combate à desinformação nas redes sociais e à repressão de atos considerados antidemocráticos. Para os aliados de Trump, tais ações representam uma ameaça à liberdade de expressão e à livre circulação de ideias na internet, pilares defendidos pela base política do ex-presidente americano. Nesse cenário, Moraes passou a ser visto como símbolo de um modelo de controle judicial considerado autoritário por esse grupo.
Segundo os articuladores dessa possível retaliação, o objetivo seria alinhar uma eventual nova gestão Trump com políticas externas mais agressivas contra governos e instituições que limitem o alcance de conteúdos digitais. A proposta, portanto, vai além de um caso isolado e faz parte de uma estratégia mais ampla que busca reposicionar os Estados Unidos como defensores ativos da liberdade de expressão nas plataformas online. Empresas próximas ao ex-presidente americano, como a Trump Media & Technology Group e a plataforma Rumble, já ingressaram com ações judiciais nos tribunais dos Estados Unidos alegando que decisões de Moraes ferem a Primeira Emenda da Constituição americana ao afetar a liberdade de usuários que também são cidadãos dos EUA.
Apesar do entusiasmo dos setores mais radicais, a ideia de aplicar sanções diretas a um magistrado de outro país é altamente controversa e gera preocupações no meio diplomático. Fontes do Departamento de Estado admitem que tal medida poderia ser interpretada como uma interferência externa no funcionamento das instituições democráticas brasileiras, desencadeando uma crise entre os dois países. Há também temor de que a iniciativa unifique o campo político no Brasil contra os EUA, com discursos em defesa da soberania nacional e acusações de imperialismo por parte do governo norte-americano.
A dimensão econômica também pesa na balança. Os Estados Unidos possuem investimentos que ultrapassam 150 bilhões de dólares no Brasil, envolvendo setores estratégicos como tecnologia, energia e agronegócio. Um conflito diplomático com o Supremo Tribunal Federal, ou com o governo brasileiro como um todo, poderia criar instabilidade e dificultar a continuidade de acordos bilaterais importantes. Além disso, o Brasil poderia retaliar com medidas que afetem empresas americanas que operam em solo nacional.
Outro fator de tensão é o contexto eleitoral brasileiro. Com as eleições presidenciais marcadas para 2026, há grande expectativa entre conservadores norte-americanos de que um nome alinhado a Bolsonaro ou à direita retorne ao comando do Executivo. No entanto, uma ação agressiva contra Moraes poderia ser explorada politicamente por adversários, fortalecendo a narrativa de que os EUA estariam tentando manipular o processo eleitoral brasileiro. Tal percepção poderia reduzir as chances de vitória de candidatos associados ao bolsonarismo, minando justamente os interesses que os aliados de Trump desejam proteger.
A imagem de Moraes como alvo de críticas internacionais não é nova. Suas decisões envolvendo bloqueios de contas, derrubada de perfis e ações contra empresários e influenciadores ligados à direita fizeram dele um personagem central na luta contra a desinformação. Ao mesmo tempo, esses atos foram interpretados por parte da população e por setores internacionais como excessos, ultrapassando os limites legais e invadindo a esfera de liberdades individuais.
A tensão ganhou um novo capítulo quando ações judiciais contra Moraes foram protocoladas nos Estados Unidos. Mesmo que as chances de sucesso jurídico dessas ações sejam limitadas, o gesto tem peso político. Ele representa um recado direto de que a ala trumpista está disposta a internacionalizar a disputa ideológica com o STF brasileiro, reforçando laços com apoiadores da direita brasileira e promovendo uma cruzada global contra o que classificam como censura institucionalizada.
O impacto dessa ofensiva, se de fato levada adiante, poderá marcar uma nova fase nas relações entre Brasil e Estados Unidos. Embora o vínculo diplomático entre os dois países seja historicamente sólido, episódios como este testam os limites dessa aliança e revelam como as disputas políticas locais ganham repercussão global em tempos de redes sociais e hiperconectividade.
Enquanto isso, Alexandre de Moraes segue no centro de uma tempestade política que transcende fronteiras, sendo reverenciado por uns como bastião da democracia e demonizado por outros como agente da censura. A decisão final sobre possíveis sanções ainda depende de variáveis políticas, diplomáticas e jurídicas, mas o simples fato de estar em discussão já é suficiente para acender o alerta vermelho nas relações bilaterais e nas estratégias eleitorais que se desenham para os próximos anos.