A recente decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio gerou um alerta no setor siderúrgico brasileiro. A medida, assinada pelo presidente Donald Trump, entrará em vigor a partir do dia 12 de março e pode impactar diretamente as exportações do Brasil, que é o segundo maior fornecedor desses produtos para o mercado americano. Com cerca de 60% de sua produção siderúrgica voltada para os Estados Unidos, a indústria nacional se vê diante de um cenário de incerteza e preocupação.
A situação remete a um episódio ocorrido em 2019, quando o então presidente Jair Bolsonaro enfrentou uma decisão similar de Trump e conseguiu reverter a tarifação. Na época, Bolsonaro afirmou que utilizaria seu "canal aberto" com o líder americano para negociar a suspensão da medida. Poucos dias depois, o próprio Trump telefonou para Bolsonaro, e os dois discutiram o assunto por aproximadamente quinze minutos. Ao fim da conversa, o governo americano voltou atrás e desistiu da taxação sobre o aço e o alumínio brasileiros. O episódio foi celebrado pelo governo brasileiro como um exemplo da boa relação entre os dois líderes e do reconhecimento da importância da parceria comercial entre os dois países.
Agora, com Luiz Inácio Lula da Silva na presidência, a situação se apresenta de forma diferente. Durante seu mandato, Lula tem adotado uma postura mais crítica em relação aos Estados Unidos e ao próprio Donald Trump. Em discursos recentes, o presidente brasileiro fez declarações que não foram bem recebidas em Washington, gerando uma distância diplomática entre os dois países. Isso levanta dúvidas sobre a capacidade do governo brasileiro de reverter a nova medida tarifária.
A falta de proximidade entre Lula e Trump pode dificultar uma negociação direta, o que força o Brasil a buscar alternativas diplomáticas mais tradicionais, como negociações via Ministério das Relações Exteriores e através de organismos internacionais. No entanto, especialistas em comércio exterior alertam que essas abordagens costumam ser mais lentas e menos eficazes em situações de urgência.
O impacto da tarifa nos setores de siderurgia e metalurgia do Brasil pode ser significativo. O país exporta milhões de toneladas de aço e alumínio para os Estados Unidos anualmente, e o aumento dos custos para os compradores americanos pode reduzir a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Isso poderia levar a uma queda na produção nacional e, consequentemente, a demissões no setor.
Empresários do ramo já demonstram preocupação com a medida. Representantes da indústria siderúrgica brasileira afirmam que a taxação pode comprometer investimentos no setor e prejudicar empresas que dependem das exportações para os Estados Unidos. Há também receios de que outros países sigam o exemplo americano e adotem medidas semelhantes, agravando ainda mais o cenário.
O governo brasileiro ainda não se pronunciou oficialmente sobre quais medidas pretende adotar para lidar com essa nova barreira comercial. O Itamaraty deve buscar diálogo com autoridades americanas para tentar minimizar os impactos da decisão de Trump, mas sem um relacionamento estreito entre os dois governos, o Brasil pode encontrar dificuldades em obter concessões.
A diferença entre os contextos de 2019 e 2025 destaca como as relações diplomáticas e comerciais podem influenciar diretamente a economia de um país. Enquanto Bolsonaro conseguiu reverter a taxação com uma ligação direta para Trump, Lula enfrenta um desafio maior diante de uma relação mais fria com os Estados Unidos. Se o governo brasileiro não conseguir articular uma solução rápida, o setor siderúrgico nacional pode sofrer consequências severas nos próximos meses.
Os próximos dias serão decisivos para entender como o Brasil reagirá a essa nova medida. O empresariado aguarda sinais do governo sobre possíveis estratégias para evitar prejuízos ao setor, enquanto a oposição já utiliza o episódio para criticar a condução da política externa de Lula. Resta saber se o governo conseguirá encontrar uma saída diplomática eficaz ou se o país terá que lidar com os impactos econômicos da taxação imposta por Trump.