O sigilo da delação foi retirado nesta quarta-feira (19), pelo ministro Alexandre de Moraes, permitindo que os detalhes da revelação fossem divulgados publicamente. A transcrição do depoimento de Cid aponta que ele procurou Braga Netto em busca de apoio financeiro para o plano de sequestro, mas o general, em resposta, teria sugerido que Cid buscasse o PL para obter o dinheiro necessário para a operação. O colaborador relatou que essa recomendação foi dada de forma direta por Braga Netto, que orientou que a solicitação fosse feita ao partido.
No depoimento, Cid afirmou que o general sugeriu ainda que os militares envolvidos no plano apresentassem um orçamento detalhado dos gastos necessários. O tenente-coronel relatou que o valor inicial estipulado para o plano era de R$ 100 mil, mas que ele havia mencionado esse valor "de maneira brincando", sem um cálculo real dos custos. Quando Cid procurou um representante do PL, cuja identidade ele não se recorda, para solicitar o financiamento, o partido teria recusado apoiar a operação, afirmando que não poderia fornecer dinheiro nem apoio logístico, como com manifestantes ou material de apoio.
Cid mencionou, ainda, que o valor mencionado de R$ 100 mil era apenas uma estimativa inicial e que ele não sabia ao certo o quanto seria necessário para bancar o plano. Ele também relatou que, diante da recusa do PL, o general Braga Netto buscou outros meios de financiamento, incluindo empresários do agronegócio. Segundo Cid, Braga Netto mencionou que um empresário do setor agropecuário teria contribuído com uma quantia, mas o ex-ajudante de ordens não soube informar o nome do doador. O dinheiro arrecadado, conforme relato de Cid, teria sido entregue pelo general ao coronel Rafael de Oliveira, que o recebeu em uma sacola de vinhos.
Além dos detalhes sobre o plano de sequestro e o financiamento por parte de empresários, Cid também falou sobre outros episódios relacionados ao ex-presidente Bolsonaro e ao entorno militar que o cercava. Em outros trechos de sua delação, o tenente-coronel detalhou pressões exercidas sobre o Exército e o envolvimento de figuras do governo em ações contrárias ao processo democrático, como a tentativa de descredibilizar o sistema eleitoral e a eleição de 2022.
A delação de Mauro Cid já havia sido amplamente especulada pela imprensa, mas a confirmação dos detalhes é um marco importante nas investigações em andamento. O depoimento coloca em xeque a atuação de figuras militares e políticas próximas ao governo de Bolsonaro, especialmente em um momento de grande tensão política no Brasil, com investigações que buscam esclarecer o papel de diversos agentes no ataque à democracia e à estabilidade do país.
A revelação do plano de sequestro de Moraes, em particular, levanta sérias preocupações sobre os limites da atuação de militares e políticos em tempos de polarização extrema. A tentativa de financiamento para uma ação tão grave, com o apoio de membros do PL e até mesmo de empresários, representa um novo capítulo nas investigações sobre os bastidores dos atos antidemocráticos que marcaram o período pós-eleitoral.
O caso agora está sob análise das autoridades competentes, e novas informações podem surgir à medida que o processo de delação avançar. A cada nova revelação, o Brasil se aproxima de entender a profundidade da crise institucional que se instalou nos últimos anos, com implicações para o futuro político e legal dos envolvidos.
Essa nova fase das investigações coloca ainda mais pressão sobre a ex-legenda de Bolsonaro e seu entorno, já que a trama de corrupção e ataques à democracia revela uma rede complexa de influências e interesses que, em última instância, pode ter colocado em risco a própria estabilidade das instituições democráticas do Brasil. O desenrolar do caso promete ser um dos maiores testes para o sistema judicial e político do país, enquanto o povo brasileiro aguarda respostas e justiça sobre os acontecimentos que marcaram os últimos anos de governo e as tentativas de subversão da ordem democrática.