Durante a coletiva realizada em Washington, Leavitt afirmou que Trump é um presidente firme, com influência internacional significativa, mas que sua atuação está voltada exclusivamente para os interesses dos Estados Unidos. A porta-voz destacou que o atual governo norte-americano tem adotado uma postura clara em defesa da economia americana e que as ações de Trump têm causado impacto em diversos setores ao redor do mundo, sempre em nome do povo americano. Ela ressaltou ainda que os EUA têm enfrentado resistência de países que não cumprem com padrões aceitáveis de comércio, tecnologia e proteção ambiental, citando diretamente o Brasil como um desses exemplos.
Em referência à carta enviada por Trump a Lula, na qual o governo americano anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados, Leavitt justificou a decisão com base em preocupações estruturais. Segundo ela, regulações digitais pouco transparentes, deficiência na proteção da propriedade intelectual e o avanço do desmatamento ilegal prejudicam gravemente as empresas americanas, que operam dentro de padrões ambientais e legais mais rígidos. A porta-voz afirmou que os produtores norte-americanos enfrentam uma concorrência injusta devido à falta de regulação e fiscalização adequadas no Brasil. A medida, segundo ela, é legítima e atende aos interesses nacionais dos Estados Unidos.
A resposta de Leavitt ocorreu horas depois de Lula conceder uma entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, em que voltou a criticar a postura dos Estados Unidos nas negociações comerciais. O presidente brasileiro afirmou que busca liberdade para firmar acordos com outros países e não pretende ser refém de nenhuma potência. Lula reconheceu a importância histórica da relação entre Brasil e Estados Unidos, mas criticou o tom unilateral adotado por Trump em suas últimas ações. Ele disse que, ao receber a carta do presidente americano anunciando a nova tarifa, pensou inicialmente que se tratava de uma notícia falsa.
Ainda na entrevista, Lula comentou que não vê Trump como um político de extrema-direita, mas como alguém que age com impulsividade nas decisões de política externa. O presidente brasileiro destacou que prefere manter o diálogo aberto e buscar soluções pacíficas, sem rupturas institucionais. Disse também que não acredita que a situação atual configure uma crise diplomática entre os dois países, mas reconheceu que há uma tensão crescente que precisa ser tratada com maturidade. Segundo Lula, o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará imposições. Ele reafirmou que seu governo tomará uma posição firme no momento adequado, sem ceder a pressões externas.
Apesar da firmeza das declarações, Lula tentou minimizar o impacto político do atrito com os Estados Unidos. Ele reiterou que o Brasil valoriza as relações econômicas bilaterais e pretende manter o diálogo com Washington aberto. Ao ser questionado sobre o pronunciamento que fará em rede nacional na noite desta quinta-feira, o presidente limitou-se a dizer que irá falar ao povo brasileiro sobre tudo o que está acontecendo e que considera importante esclarecer sua posição diante da atual conjuntura internacional.
A divergência em torno das tarifas comerciais e da postura internacional de Trump expõe uma mudança no tom da relação entre os dois países, que vinha sendo tratada com aparente cordialidade nos últimos meses. Com a aproximação das eleições nos Estados Unidos e os desafios enfrentados por Lula em sua política externa, o episódio pode marcar uma inflexão na diplomacia entre Brasília e Washington. Resta saber se as trocas de mensagens e declarações públicas abrirão espaço para um novo ciclo de negociações ou se sinalizam o início de um distanciamento estratégico entre duas das maiores economias do continente americano.