A presidente nacional do Psol, Paula Coradi, foi quem assinou e apresentou formalmente o pedido. Em sua fala, ela acusou Eduardo Bolsonaro de crimes como atentado à soberania nacional, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e articulação de golpe. Segundo Coradi, é inaceitável que um parlamentar eleito pelo povo brasileiro deixe o país para, em suas palavras, conspirar contra a própria nação. Ela ainda afirmou que as declarações do deputado licenciado não são apenas irresponsáveis, mas também danosas à economia nacional e à imagem do Brasil no exterior.
A acusação se apoia em uma carta divulgada poucos dias após o anúncio da tarifa de Trump. No documento, assinado em conjunto com o jornalista Paulo Figueiredo, Eduardo Bolsonaro elogia diretamente o presidente americano e critica a política externa do governo Lula. A carta classifica a atual postura do Brasil como um afastamento dos valores do chamado mundo livre, sugerindo que a nação estaria se aproximando de regimes autoritários e abandonando suas tradições democráticas. O texto gerou fortes reações em diferentes esferas do governo, especialmente pelo momento delicado das relações bilaterais entre os dois países.
De acordo com o Psol, a carta é uma clara tentativa de desestabilizar a ordem institucional brasileira e representa uma ação coordenada para fomentar pressões externas sobre o governo nacional. O partido argumenta ainda que a colaboração de Eduardo com lideranças conservadoras internacionais tem o objetivo de deslegitimar o Judiciário brasileiro, em especial o Supremo Tribunal Federal, que atualmente conduz investigações e julgamentos de figuras ligadas ao bolsonarismo.
O caso agora será analisado pela Procuradoria-Geral da República, que deverá decidir se há ou não elementos suficientes para a abertura de uma investigação formal. A expectativa é que a análise seja criteriosa, uma vez que o pedido de prisão de um parlamentar, ainda que licenciado, envolve prerrogativas constitucionais, como a imunidade parlamentar, que protege a liberdade de opinião e de expressão no exercício do mandato.
A reação entre aliados de Eduardo Bolsonaro foi imediata. Parlamentares do PL, bem como lideranças conservadoras em redes sociais, classificaram a medida do Psol como um ataque à democracia e uma tentativa desesperada de criminalizar a oposição política ao governo Lula. Eles afirmam que o deputado apenas expressou sua opinião sobre as tarifas americanas, ressaltando que críticas ao governo não podem ser tratadas como crime.
Nos bastidores do Congresso Nacional, o clima também é de inquietação. Mesmo parlamentares de partidos de centro demonstraram preocupação com o teor do pedido e com a escalada de tensões políticas no país. A avaliação é de que, embora o apoio público a medidas impopulares como a tarifa de Trump possa ser reprovável sob o ponto de vista diplomático, não necessariamente configura um crime que justifique a prisão de um deputado federal.
Enquanto isso, o governo federal tenta contornar a crise com os Estados Unidos por vias diplomáticas. O Itamaraty busca reverter ou ao menos mitigar os efeitos da tarifa imposta por Trump, que já foi vista por analistas como uma retaliação indireta à condução de processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A situação se agrava à medida que aumentam as pressões sobre o STF e sobre o governo brasileiro por parte de lideranças conservadoras internacionais.
O pedido de prisão contra Eduardo Bolsonaro marca mais um capítulo na crescente polarização política que tem dominado o cenário brasileiro desde as últimas eleições. À medida que se aproximam julgamentos sensíveis no Supremo e o embate com os EUA se intensifica, a tendência é de que novas ações judiciais e embates públicos continuem elevando a temperatura política no país. Resta saber se a PGR entenderá que há base legal para transformar esse episódio em mais um processo penal ou se o caso será arquivado como parte de uma disputa meramente política.

