Zelensky recusa contato de Lula e critica visita do presidente a Moscou

LIGA DAS NOTÍCIAS

O recente impasse diplomático entre Brasil e Ucrânia ganhou novos contornos com a recusa do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em aceitar um pedido de conversa telefônica feito por Luiz Inácio Lula da Silva. A negativa ocorre em meio à confirmação da participação de Lula nas celebrações dos 80 anos da vitória contra o nazismo em Moscou, evento organizado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A visita do líder brasileiro à Rússia foi recebida com forte desagrado por autoridades ucranianas, que veem no gesto uma clara sinalização de apoio ao governo russo em meio ao prolongado conflito com a Ucrânia.


Fontes próximas ao governo de Kiev afirmaram que o pedido de diálogo por parte do Brasil foi interpretado como uma tentativa de legitimar a viagem a Moscou, e não como uma ação genuína de mediação. Uma das fontes, que preferiu não ser identificada, criticou duramente a postura do governo brasileiro, afirmando que Lula estaria buscando apenas um “álibi e uma desculpa” para se encontrar com Putin. A mesma fonte destacou ainda que a presença de Lula ao lado de tropas russas em um desfile militar na Praça Vermelha representaria um gesto simbólico de apoio à invasão da Ucrânia.


A irritação de Kiev também se estende à possibilidade de imagens de Lula ao lado de Putin serem amplamente divulgadas, em um momento em que a comunidade internacional ainda debate soluções diplomáticas para o conflito. De acordo com representantes ucranianos, o evento na capital russa tem forte caráter propagandístico e tende a reforçar a narrativa de Putin sobre a guerra, o que, na visão da Ucrânia, contraria o princípio de neutralidade que o Brasil tenta manter.


O pedido formal para a conversa entre os dois presidentes foi feito no início de abril, mas a justificativa apresentada por Kiev para a recusa foi a de “problemas de agenda”. Nos bastidores, no entanto, o entendimento do governo ucraniano é que o momento político e diplomático não era apropriado para um contato de alto nível com Brasília. Essa decisão ocorreu antes mesmo da confirmação oficial da viagem de Lula à Rússia.


Lula e Zelensky estiveram recentemente em Roma, durante o funeral do Papa Francisco, mas não chegaram a se encontrar pessoalmente. Ainda assim, Zelensky encontrou espaço em sua agenda para se reunir com líderes europeus e até mesmo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem trocou palavras duras em um encontro tenso na Casa Branca. Para analistas internacionais, o fato de o presidente ucraniano ter evitado Lula em um evento diplomático de grande porte reforça a insatisfação com a condução brasileira em relação ao conflito no Leste Europeu.


Procurado, o Itamaraty preferiu não comentar as críticas vindas de Kiev. Uma fonte ligada ao governo brasileiro, no entanto, afirmou que a posição do Brasil permanece a mesma desde o início da guerra: condenação à invasão russa, apoio às resoluções da ONU em favor da Ucrânia e defesa constante da diplomacia como único caminho possível para a paz. A fonte destacou ainda que o Brasil mantém o diálogo com todas as partes envolvidas e que não se submeterá a pressões externas na condução de sua política externa.


No entanto, a visita de Lula a Moscou pode ter implicações práticas nas relações bilaterais com a Ucrânia. Autoridades ucranianas indicam que a viagem poderá gerar um afastamento diplomático entre os dois países. Um dos sinais mais evidentes de tensão é a indefinição sobre quem assumirá a embaixada ucraniana em Brasília. Com a transferência do atual embaixador Andrii Melnyk para a missão da Ucrânia na ONU, em Nova York, ainda não há indicação de substituto, o que, segundo apurou a CNN, pode ser uma forma sutil de sinalizar insatisfação com o governo brasileiro.


Mesmo antes do recente impasse, Lula havia enviado seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Ucrânia em 2023, como tentativa de estreitar laços e demonstrar preocupação com a guerra. Amorim, que segue mantendo contato com autoridades ucranianas, afirmou que o Brasil tem como princípio ouvir todos os lados envolvidos em conflitos e que a visita de Lula a Moscou segue essa lógica de equilíbrio. No entanto, a percepção ucraniana é de que o gesto do presidente brasileiro favorece abertamente o Kremlin, especialmente pela natureza simbólica do evento do qual ele participará.


A crise atual representa mais um capítulo das complexas relações diplomáticas entre os países em meio a um cenário internacional instável. Com a guerra na Ucrânia prestes a completar três anos, cada movimento de líderes mundiais é observado com atenção redobrada. A decisão de Lula de comparecer às comemorações em Moscou, ainda que justificada sob a ótica do diálogo, poderá redefinir o espaço do Brasil no tabuleiro geopolítico e comprometer, ao menos temporariamente, sua interlocução com Kiev.

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