Segundo a magistrada, os termos utilizados pelo parlamentar não apenas descredibilizaram a identidade de pessoas trans, como também incitaram a sociedade a manter atitudes de desrespeito e preconceito. Apesar da condenação, a decisão ainda cabe recurso e foi tomada na esfera cível. Em 2024, no âmbito criminal, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça arquivou denúncias semelhantes, considerando que as falas estavam protegidas pela imunidade parlamentar, um direito garantido pela Constituição a deputados e senadores quanto a suas opiniões, palavras e votos dentro do exercício do mandato. Mendonça destacou que, para além da Justiça, caberia à própria Câmara avaliar se houve quebra de decoro por parte do deputado.
Após a nova decisão, Nikolas Ferreira utilizou suas redes sociais para reagir à sentença. Em tom sarcástico, afirmou que seria inocentado caso estivesse envolvido em um escândalo de corrupção, como o de “rachadinha”, fazendo alusão a investigações que envolveram outros parlamentares no passado. O deputado defendeu que foi condenado unicamente por expressar uma opinião e acusou o que chama de "tirania de ativistas LGBT". Segundo ele, o episódio revela uma contradição do sistema judicial, que não se aplica com a mesma severidade a outros políticos, especialmente os de espectro ideológico oposto.
Ferreira citou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lembrando uma fala do petista durante a campanha eleitoral de 2022, na qual o então candidato ironizou a criação de banheiros unissex, dizendo que tal ideia só poderia ter surgido “da cabeça de Satanás”. O parlamentar questionou por que, nesse caso, nenhuma entidade LGBTQIA+ buscou responsabilizar judicialmente o presidente, levantando dúvidas sobre a imparcialidade das decisões judiciais quando envolvem personagens da esquerda política.
O caso de Nikolas reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão, especialmente no contexto do Parlamento. Para seus apoiadores, o deputado tem o direito de manifestar sua opinião, mesmo que impopular ou polêmica, sem sofrer sanções legais. Já para seus críticos, suas falas extrapolam a crítica política e alimentam discursos discriminatórios, especialmente contra populações historicamente vulneráveis, como pessoas trans e travestis.
Especialistas em direito constitucional têm opiniões divergentes sobre a situação. Alguns defendem que o princípio da imunidade parlamentar precisa ser protegido para garantir a independência do Legislativo, mesmo diante de discursos controversos. Outros argumentam que tal imunidade não pode ser um escudo para a propagação de preconceitos ou discursos que coloquem em risco a dignidade de determinados grupos sociais.
Apesar da repercussão, o deputado afirmou que recorrerá da decisão e continuará denunciando o que considera abusos de movimentos identitários. Ele reforçou sua posição contrária à participação de pessoas trans em espaços tradicionalmente femininos, afirmando que isso representa uma ameaça à mulher biológica. Ao mesmo tempo, líderes de entidades civis e parlamentares da oposição pedem uma resposta institucional mais firme, alegando que a impunidade nesses casos fortalece o preconceito.
O episódio também se insere em um cenário político cada vez mais polarizado no Brasil, onde disputas culturais e ideológicas muitas vezes ganham mais destaque do que o debate de propostas. Com grande presença nas redes sociais, Nikolas Ferreira tem usado sua visibilidade para se consolidar como uma das principais vozes da nova direita conservadora, especialmente entre os mais jovens. Seu estilo combativo, que mistura provocação e ativismo ideológico, é visto por seus eleitores como autenticidade, enquanto seus adversários o acusam de oportunismo e intolerância.
Enquanto a disputa jurídica segue seu curso, a sociedade brasileira continua dividida entre a defesa da liberdade de expressão e a proteção contra o discurso de ódio, dois princípios fundamentais que, neste caso, se encontram em rota de colisão.