Na abertura da cúpula, Janja discursou diante de autoridades internacionais, lembrando a gravidade da situação alimentar no mundo e destacando que a fome e a má nutrição afetam diretamente milhões de crianças. “Ao final deste evento, milhares de crianças terão morrido ao redor do mundo por falta de alimentos, pela fome e a má nutrição”, disse a primeira-dama, sublinhando que 200 milhões de crianças em todo o mundo são afetadas por esses problemas. Ela também aproveitou a oportunidade para fazer um apelo à redução das despesas com armamentos, enfatizando que é urgente a destinação de mais recursos para a nutrição e para o combate à pobreza.
Janja destacou ainda as políticas públicas de segurança alimentar implementadas durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, como o Bolsa Família, e lembrou da criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, proposta pelo Brasil. Sua fala também abordou o impacto da diminuição dos recursos globais voltados para a cooperação humanitária, ressaltando a importância de continuar os esforços para cumprir os compromissos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, em especial os relacionados à erradicação da pobreza e à luta contra a fome.
O evento também contou com a participação de representantes do governo brasileiro, incluindo os ministros das Relações Exteriores, do Desenvolvimento Social, da Saúde e da Educação. A cúpula foi inaugurada pelo primeiro-ministro francês, François Bayrou, que enfatizou o papel crucial do evento na busca por soluções sustentáveis para os desafios globais relacionados à nutrição.
Na parte da tarde, Janja teve um encontro significativo com a primeira-dama da França, Brigitte Macron, que a recebeu para um almoço. Além disso, ela também participou de uma recepção destinada a autoridades estrangeiras, incluindo figuras de destaque como o rei Letsie III do Lesoto e o vice-presidente da Costa do Marfim, Tiemoko Meyliet Koné. Os ministros de cerca de 75 países e representantes de importantes organizações internacionais, como o Banco Mundial, o Programa Alimentar Mundial e o Unicef, marcaram presença na cúpula, que se consolidou como um momento chave para discutir soluções concretas para a fome no planeta.
No segundo dia de evento, Janja estará envolvida em uma atividade paralela organizada pelo Brasil em sua embaixada em Paris, onde continuará seu engajamento no combate à fome e promoverá uma maior cooperação internacional para o alcance das metas globais de nutrição.
A questão da fome no mundo tem se agravado, com mais de 3 bilhões de pessoas afetadas por algum tipo de má nutrição, seja por desnutrição, carência alimentar ou até sobrepeso e obesidade. O Banco Mundial estima que seriam necessários cerca de 13 bilhões de dólares anuais para combater a má nutrição, principal causa de mortalidade infantil. Entretanto, o cenário atual, com o aumento dos gastos com defesa em muitos países e a diminuição dos fundos destinados à cooperação humanitária, representa um grande desafio para alcançar essa meta. Na última edição da cúpula, realizada no Japão, um recorde de 27 bilhões de dólares foi arrecadado ao longo de quatro anos para essa causa, mas os desafios financeiros continuam.
Além disso, a França, embora seja uma das nações líderes em apoio a iniciativas internacionais, enfrenta dificuldades para aumentar sua contribuição financeira devido à situação geopolítica e ao apoio militar à Ucrânia, o que impacta diretamente o orçamento destinado a outras áreas, como a ajuda humanitária. Para complicar ainda mais, os Estados Unidos, tradicionalmente grandes apoiadores de iniciativas contra a fome, suspenderam recentemente suas contribuições a programas voltados para países em desenvolvimento, o que representa uma perda significativa no esforço global de combate à desnutrição.
Neste contexto, a cúpula N4G se tornou uma plataforma essencial para mobilizar recursos e discutir ações estruturais que possam garantir a continuidade dos projetos destinados a reduzir a fome e a má nutrição, além de avançar na implementação de políticas públicas mais eficazes para o enfrentamento desses problemas. O Brasil, por meio da participação de sua primeira-dama, reafirma seu compromisso com a erradicação da fome e a promoção de políticas alimentares que garantam a dignidade e o bem-estar das populações mais vulneráveis, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo.