Embora ainda seja cedo para afirmar com certeza que Fux se oporá a todos os entendimentos de Moraes, seus posicionamentos recentes indicam que ele pode discordar pontualmente da abordagem do colega. Durante a análise preliminar do caso, Fux levantou a questão sobre a competência do tribunal para julgar a denúncia. Para o ministro, o julgamento do recebimento da denúncia deveria ser realizado pelo plenário do STF, com todos os onze ministros participando da decisão, ao invés de ser conduzido apenas pela Primeira Turma, como sugerido inicialmente.
Fux destacou que a atribuição de julgar casos desse tipo não é pacífica e que a composição do tribunal para esse julgamento poderia ser revista. Ele argumentou que, se os acusados ainda mantivessem funções públicas, o julgamento deveria ocorrer no plenário, e não na Primeira Turma, que normalmente lida com questões mais específicas. Essa opinião de Fux foi especialmente importante para os defensores dos réus, que defendem que o caso deveria ser analisado por todos os ministros do Supremo.
Outro ponto de divergência de Fux foi em relação ao acordo de colaboração premiada de Mauro Cid, um dos acusados envolvidos na tentativa de golpe. Durante a discussão sobre a validade da delação, Fux expressou ceticismo sobre a quantidade de delações feitas por Cid. O ministro considerou que as nove versões apresentadas pelo colaborador indicavam uma possível omissão nas informações e que, por esse motivo, a delação não deveria ser considerada de forma simplificada. Embora tenha reconhecido que o momento do julgamento não fosse apropriado para aprofundar essas questões, ele demonstrou uma reserva quanto à eficácia de uma delação com tantas alterações e omissões.
Esse tipo de posicionamento alimenta a especulação de que Fux pode se destacar como uma voz independente dentro da Primeira Turma do STF, ao contrário de outros ministros que já se alinharam mais diretamente com Moraes. Advogados que representam os acusados na ação esperam que Fux possa discordar da decisão da maioria sobre o recebimento da denúncia, criando uma possibilidade de uma linha de defesa mais sólida.
Esse cenário ficou mais evidente quando Fux pediu vista do julgamento de uma acusada, a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a frase "perdeu, mané" em uma estátua do tribunal. O pedido de vista foi interpretado como uma forma de o ministro aprofundar sua análise sobre a denúncia e entender melhor as implicações jurídicas da ação. Isso gerou especulação de que Fux estava insatisfeito com a severidade da pena proposta por Moraes, que havia sugerido uma condenação de 14 anos de prisão para Débora. Embora Fux não tenha se pronunciado explicitamente sobre o tema, a interrupção do julgamento foi vista como uma indicação de seu descontentamento com o posicionamento de Moraes.
As discussões em torno da tentativa de golpe e os julgamentos no STF têm atraído críticas nas redes sociais, especialmente de apoiadores de Bolsonaro. A oposição ao STF ganhou força nos últimos dias, principalmente com a análise da denúncia pela Primeira Turma. Essa pressão externa também tem contribuído para um ambiente mais tenso em torno das decisões do Supremo, e Fux tem se mostrado uma figura chave em meio a esse debate.
Com a continuação do julgamento, muitos aguardam para ver como Fux se comportará nas próximas votações. Seu histórico de ser um magistrado experiente e independente faz com que sua posição seja observada com atenção, e as expectativas dos advogados dos réus indicam que ele pode se tornar um elemento importante no equilíbrio das decisões no STF.
Embora seja impossível prever com total precisão qual será o rumo do julgamento, o comportamento de Fux até o momento sugere que ele pode não seguir automaticamente a linha adotada por Moraes, podendo se tornar um fator de divergência no processo. O andamento desse julgamento continuará a ser acompanhado de perto, já que ele trata de um dos casos mais sensíveis da política brasileira recente. O desfecho poderá influenciar não apenas a análise jurídica, mas também o cenário político em um momento de grande polarização no país.