A defesa do ex-presidente apontou que Zanin teria atuado em causas políticas que envolviam o atual governo e, portanto, estaria em posição de parcialidade para analisar o caso. No entanto, o ministro explicou que sua atuação como advogado foi encerrada em outubro de 2022, e que, embora tenha atuado na defesa de partidos e federações políticas, isso não configura uma causa de impedimento, uma vez que o contexto da acusação é distinto daquele que motivou seu pedido de afastamento de um processo anterior. Zanin enfatizou que sua atuação foi limitada a uma atuação jurídica e não teve qualquer envolvimento com as questões investigativas que envolvem a tentativa de golpe de 2022 ou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Em sua manifestação, o ministro ressaltou que não houve nenhuma participação sua em investigações relacionadas aos acontecimentos de 8 de janeiro, evento que gerou repercussões em todo o país. Zanin também afirmou que já participou de 901 recebimentos de denúncia e 418 julgamentos de mérito relacionados a crimes cometidos naquela data, e que não há nenhum fator que o impeça de julgar este caso específico. Ele reiterou ainda que não possui nenhum sentimento negativo que possa afetar sua imparcialidade no julgamento.
O único contato que Zanin teve com Bolsonaro, conforme ele mesmo revelou, ocorreu no segundo semestre de 2023, no Aeroporto Internacional de Brasília, onde o ex-presidente tomou a iniciativa de se aproximar do ministro. A conversa foi descrita como "republicana e civilizada", sem qualquer conteúdo que comprometesse a imparcialidade de Zanin.
Em resposta ao pedido da defesa, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, solicitou que os ministros Cristiano Zanin e Flávio Dino se manifestassem sobre a questão do impedimento. A defesa de Bolsonaro alegava que ambos os ministros já haviam processado o ex-presidente ou atuado em causas que o envolviam, o que geraria uma relação de parcialidade. Por isso, o presidente do STF requisitou que eles apresentassem suas opiniões sobre a matéria. A denúncia feita pela PGR contra Bolsonaro e outros ex-integrantes de seu governo ficará sob responsabilidade da 1ª Turma do STF, à qual Zanin e Dino pertencem.
Essa situação reflete as tensões políticas e jurídicas em torno do julgamento de ex-membros do governo Bolsonaro. O STF tem sido palco de discussões acirradas sobre a imparcialidade de seus ministros em processos que envolvem figuras políticas de destaque, especialmente considerando o histórico recente de divisões políticas intensas no Brasil. A atuação do STF em processos de grande repercussão tem sido observada com atenção, não apenas por especialistas, mas também por setores da sociedade que acompanham o desenrolar das investigações e dos julgamentos.
Embora Zanin tenha sido claro em sua defesa de que não há motivos legais para sua suspeição ou impedimento, o pedido de afastamento de sua participação no julgamento de Bolsonaro coloca em evidência as complexidades das relações entre o Judiciário e a política no Brasil. A manifestação do ministro foi uma tentativa de esclarecer qualquer dúvida sobre sua posição e assegurar que sua atuação será imparcial, conforme preconiza a Constituição brasileira.
O caso segue gerando repercussão e expectativas sobre o desfecho do julgamento, que pode ter implicações significativas não apenas para o ex-presidente, mas também para o cenário político atual. A atuação do STF, especialmente em temas que envolvem ex-presidentes e figuras políticas de destaque, tende a ser sempre um tema delicado e que desperta grande interesse público, dado o papel crucial do Supremo na interpretação da legislação e no equilíbrio entre os poderes da República.