A mobilização popular tem sido um dos pontos chave dessa estratégia. O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), responsável por levar o pedido de impeachment à Câmara dos Deputados, acredita que a mobilização nas ruas será essencial para garantir o avanço do processo no Congresso. Para isso, uma manifestação foi agendada para o dia 16 de março, em São Paulo, com o objetivo de demonstrar força e apoio ao impeachment. A expectativa é de que a pressão popular torne a situação insustentável para o presidente.
No entanto, apesar das intenções da oposição, analistas políticos alertam que o cenário para o impeachment não é tão favorável quanto em momentos passados. O apoio crucial do Centrão à administração de Lula representa um obstáculo significativo. Esse grupo tem dado suporte ao governo em votações importantes, especialmente aquelas relacionadas a questões econômicas, em troca de benefícios como cargos e recursos públicos. Esse apoio tem garantido a estabilidade do governo, tornando mais difícil qualquer movimento que busque desafiar sua continuidade.
Além disso, a relação do governo Lula com o Supremo Tribunal Federal (STF) também é considerada uma vantagem. O governo tem conquistado o apoio da Corte em decisões cruciais, como aquelas relacionadas ao uso de emendas parlamentares. Esse apoio tem sido visto como um fator que contribui para a manutenção da governabilidade, o que contrasta com a situação enfrentada pela ex-presidente Dilma Rousseff, que foi alvo de um impeachment em 2016. Naquele momento, Dilma se viu cercada por decisões judiciais desfavoráveis, em grande parte devido aos desdobramentos da Operação Lava Jato.
Enquanto isso, o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), argumenta que o governo Lula tem buscado garantir a continuidade do apoio parlamentar por meio de medidas que incluem o aumento de gastos públicos e a criação de novos cargos na administração federal. Essas ações são vistas como uma forma de assegurar que o governo tenha respaldo no Congresso, dificultando qualquer movimento sério de impeachment.
Outro ponto importante que gera divergência entre analistas é o comparativo entre o atual momento político e o cenário que levou ao impeachment de Dilma Rousseff. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, defende que o impeachment de Lula pode avançar, destacando que o Brasil atravessa uma crise econômica e uma queda na popularidade do presidente, fatores que também contribuíram para o afastamento de Fernando Collor em 1992 e de Dilma em 2016. O requerimento de impeachment, que já conta com cerca de 130 assinaturas, alega crimes de responsabilidade relacionados ao programa Pé-de-Meia. Contudo, especialistas lembram que o cenário atual não é tão grave quanto o de 2015, quando o impeachment de Dilma foi acelerado por uma série de fatores, incluindo o confronto com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O ex-deputado Mendonça Filho (União-PE), que foi um dos coordenadores do impeachment de Dilma, destacou a força da base parlamentar de Lula, que é mais robusta do que a que Dilma possuía na época de seu impeachment. De acordo com Mendonça Filho, enquanto Dilma enfrentava uma base parlamentar mais fragmentada e sem o apoio do Centrão, Lula conta com o respaldo desse grupo, o que torna o cenário atual muito mais complicado para a oposição.
A crise fiscal continua sendo um dos pontos centrais no debate sobre o impeachment. A principal acusação contra o governo Lula, que tem se intensificado nas últimas semanas, é a prática de pedaladas fiscais, uma prática que também esteve no centro do impeachment de Dilma. O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades no programa Pé-de-Meia, apontando que repasses no valor de R$ 6 bilhões não passaram pelo Tesouro Nacional nem foram aprovados pelo Congresso. Além disso, a Advocacia-Geral da União (AGU) reconheceu que parte dos recursos foram financiados por fundos privados, o que violaria as normas orçamentárias do país.
A comparação com o governo Dilma não é por acaso. Durante o mandato de Dilma, a acusação de pedaladas fiscais foi central no processo que culminou no impeachment. O rombo nas contas públicas naqueles anos foi significativo, o que gerou uma crise econômica sem precedentes. No caso de Lula, embora os números ainda não sejam tão alarmantes, as acusações de irregularidades fiscais já começam a ganhar força.
No entanto, a questão jurídica do impeachment continua sendo um ponto de debate entre parlamentares. Enquanto alguns deputados, como Carlos Sampaio (PSDB-SP), apontam semelhanças entre as ações de Dilma e Lula, defendendo que ambos comprometeram a credibilidade fiscal do país, outros, como Augusto Coutinho (Republicanos-PE), acreditam que o pedido atual carece de um embasamento jurídico robusto.
Com o cenário ainda instável, o governo de Lula tem procurado garantir o apoio dos principais aliados, como o Centrão e o STF, para evitar que o processo de impeachment ganhe força. A oposição, por sua vez, tenta mobilizar o público e pressionar por uma mudança no Congresso. A batalha política continua a ser marcada por incertezas, e o futuro do impeachment ainda é um tema central nas discussões políticas do Brasil.