Durante o encontro, Paiva, seguindo protocolos, questionou Braga Netto sobre seu tratamento durante o período de detenção. Perguntas sobre o acesso do preso a assistência jurídica, visitas familiares e as condições em que ele estava sendo mantido foram feitas pelo comandante. O general, acusado de ser um dos articuladores do golpe, está detido no Comando da 1ª Divisão de Exército, também na capital fluminense, em uma prisão que, embora chamada de "prisão", não segue as condições usuais para os demais detentos.
Braga Netto está cumprindo a prisão em um alojamento improvisado, dado que não existe um espaço específico para generais de sua patente em unidades militares. O local conta com móveis como frigobar, ar-condicionado, televisão e até um banheiro exclusivo. A prisão especial é um benefício destinado a militares em prisão preventiva, conforme as normas do Estatuto dos Militares, que determinam que oficiais só podem ser detidos sob a guarda de um comandante de hierarquia igual ou superior.
A detenção de Braga Netto, que já foi ministro da Defesa e da Casa Civil no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, é um marco, pois ele se tornou o primeiro general de quatro estrelas do Exército a ser preso no Brasil. A prisão ocorreu em um contexto político tenso, onde o general é investigado por sua possível participação em uma tentativa de subverter a ordem constitucional, articulando um golpe contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A Polícia Federal (PF) revelou que Braga Netto teria contribuído para a criação de documentos falsos e participado ativamente da coordenação de militares ligados a movimentos golpistas.
As investigações indicam que Braga Netto teria se envolvido com a produção de um manuscrito encontrado na mesa de um assessor seu, onde se afirmava que "Lula não sobe a rampa", uma clara referência à posse de Lula no cargo de presidente. Além disso, a PF apontou que o general teria promovido ataques por meio de milícias digitais e até ajudado a financiar os planos golpistas, entregando dinheiro a um "kid preto", uma figura envolvida nos movimentos conspiratórios.
Outro aspecto importante nas investigações diz respeito ao envolvimento de Braga Netto com a tentativa de obter informações sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que também está sendo investigado por sua ligação com o esquema golpista. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), a prisão preventiva de Braga Netto foi necessária para evitar que ele tentasse influenciar as investigações, dado o seu peso político e militar.
Em resposta às acusações, a defesa do general nega todas as alegações de envolvimento no golpe, argumentando que ele não teve participação nas ações descritas pela PF. A PGR, por sua vez, afirmou que a prisão do militar é fundamental para o andamento das investigações, já que ele poderia tentar obstruir a justiça ou até mesmo fugir, dada sua posição e recursos disponíveis.
A visita do comandante Paiva a Braga Netto, embora curta, chamou atenção pela relevância do encontro e pelo simbolismo de um oficial de tão alto posto sendo visitado por seu superior. Para muitos, o episódio traz à tona as tensões no seio das Forças Armadas, que têm sido desafiadas a lidar com o legado da polarização política que tomou conta do Brasil nos últimos anos. A prisão de Braga Netto não apenas marca um momento histórico para o Exército Brasileiro, mas também amplia o debate sobre o papel das Forças Armadas na política do país e sobre as consequências das ações de seus membros durante períodos de instabilidade institucional.
Enquanto o caso continua a ser investigado, a expectativa é que mais informações surjam nos próximos dias, com a possibilidade de novos indiciamentos e até mesmo uma denúncia formal por parte da PGR contra figuras chave desse processo. O desenrolar da situação poderá trazer mais revelações sobre o envolvimento de outros militares e figuras políticas nos planos golpistas que buscaram questionar a legitimidade da eleição de 2022 e, consequentemente, a estabilidade do governo atual.