Na postagem, Eduardo Bolsonaro destacou que a decisão do ministro não apenas reforça a necessidade, segundo ele, de impor sanções ao magistrado, mas também representa uma afronta direta à autoridade de Trump. O parlamentar marcou aliados do ex-presidente Bolsonaro e o próprio Trump na publicação, sugerindo que o ministro teria extrapolado suas competências ao punir financeiramente um cidadão e uma empresa que atuam em solo estrangeiro, mais especificamente em um país que tem como princípio a liberdade de expressão. A frase usada por Eduardo para resumir o episódio foi incisiva: “Moraes desafia Trump em solo americano”.
A entrevista de Allan dos Santos, que motivou a nova decisão judicial, foi veiculada com o título provocativo “Lula incha o Estado e STF persegue brasileiros! É a ditadura de toga”. No conteúdo, o comunicador critica de maneira contundente a atuação do Supremo Tribunal Federal, acusando a instituição de violar liberdades individuais e perseguir opositores do governo. O ministro Alexandre de Moraes entendeu que a entrevista constitui descumprimento de decisões judiciais anteriores que proibiam Allan de propagar conteúdos considerados atentatórios ao Estado Democrático de Direito. Em seu despacho, Moraes afirmou que o comunicador continua usando as redes sociais como plataforma para atacar instituições democráticas, principalmente o STF, e determinou a aplicação imediata da multa.
O episódio reacende o debate sobre os limites da atuação do Judiciário brasileiro em relação a cidadãos que se encontram fora do território nacional. Para aliados de Bolsonaro, a decisão de Moraes é mais uma demonstração de autoritarismo, ao atingir um cidadão que vive nos Estados Unidos, país que, historicamente, garante proteção legal ampla à liberdade de opinião. Há também quem veja na atitude do ministro um gesto de provocação direta ao governo Trump, que recentemente manifestou apoio público a Bolsonaro e tem feito críticas veladas ao Supremo brasileiro.
Do ponto de vista jurídico, especialistas divergem sobre a aplicabilidade de decisões do STF contra indivíduos fora do Brasil. Embora o Judiciário brasileiro possa responsabilizar brasileiros por ações cometidas no exterior, há dificuldades práticas e legais para executar penalidades financeiras ou criminais em outros países, especialmente quando essas ações envolvem questões sensíveis como liberdade de expressão. O caso de Allan dos Santos, que possui pedido de extradição pendente e vive legalmente nos Estados Unidos, torna-se ainda mais complexo diante da reação de figuras públicas norte-americanas que já manifestaram preocupação com o que consideram abuso de poder por parte do STF.
A tensão entre o Judiciário brasileiro e o bolsonarismo exilado parece crescer a cada nova decisão envolvendo aliados do ex-presidente. Recentemente, outros parlamentares conservadores norte-americanos também se manifestaram contra Alexandre de Moraes, alegando que ele persegue adversários políticos sob o pretexto de proteger a democracia. Com a retomada do protagonismo internacional de Donald Trump, esse tipo de confronto pode se intensificar ainda mais, especialmente se os Estados Unidos decidirem tomar medidas simbólicas contra figuras do Judiciário brasileiro.
O governo Lula acompanha com cautela o desenrolar desses conflitos, tentando evitar uma escalada diplomática com Washington, ao mesmo tempo em que defende a independência das instituições nacionais. No entanto, o caso de Allan dos Santos já provocou reações no Itamaraty, que teme que a politização das decisões judiciais brasileiras no exterior possa comprometer a imagem do país perante a comunidade internacional. A recente convocação do encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA para prestar esclarecimentos sobre uma nota favorável a Bolsonaro mostra que o tema já ultrapassou as fronteiras do Judiciário e alcançou o campo sensível da diplomacia.
Enquanto isso, nas redes sociais, a base bolsonarista intensifica as críticas ao STF, usando o caso de Allan dos Santos como exemplo do que consideram censura e perseguição ideológica. A narrativa de que Moraes estaria tentando impor sua autoridade além das fronteiras brasileiras ganha força entre os seguidores do ex-presidente, especialmente com o apoio de figuras internacionais. O episódio marca mais um capítulo de uma crise institucional sem precedentes, na qual decisões judiciais, discursos políticos e pressões diplomáticas se misturam em um cenário cada vez mais imprevisível.