Na publicação feita em 29 de junho, no contexto da manifestação popular ocorrida na Avenida Paulista em apoio ao ex-presidente, Gayer se dirige ao público internacional dizendo que “todos lá fora” precisam saber o que está acontecendo no Brasil. A iniciativa foi interpretada por Moraes como uma tentativa de manipular a opinião pública global e influenciar o andamento da ação penal de número 2.668/DF, que já está em fase de alegações finais. Para o ministro, Eduardo Bolsonaro estaria deliberadamente adotando medidas para embaraçar e prejudicar o curso natural do processo judicial, mesmo estando formalmente licenciado de seu mandato.
O tom adotado por Alexandre de Moraes no despacho chama atenção por seu grau de subjetividade. A interpretação de uma publicação em rede social como tentativa de interferência em um processo judicial levanta questionamentos sobre os limites da liberdade de expressão e da atuação parlamentar. Especialistas em direito e observadores políticos avaliam que, cada vez mais, manifestações públicas têm sido usadas como justificativa para decisões judiciais com forte viés político. A postura do ministro, nesse sentido, é vista por muitos como parte de uma estratégia de intimidação e silenciamento, especialmente diante do avanço da articulação internacional que começa a denunciar os abusos do STF.
Os recentes pronunciamentos do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em defesa de Jair Bolsonaro e contra a atuação de juízes ativistas no Brasil, colocaram a situação sob os holofotes globais. Trump afirmou categoricamente que a perseguição judicial contra Bolsonaro é um escândalo que não seria tolerado em qualquer democracia madura. A congressista americana Maria Elvira Salazar, por sua vez, foi ainda mais direta ao acusar Moraes de usar o sistema de justiça como arma para calar opositores políticos. A somatória dessas manifestações começa a criar um ambiente de incômodo para o Supremo Tribunal Federal, e Moraes, como principal rosto desse processo, parece estar reagindo com mais decisões polêmicas.
A tensão aumentou ainda mais depois que veio a público que a Justiça do Estado da Flórida voltou a intimar Alexandre de Moraes em uma ação movida pelas empresas Trump Media e pela plataforma Rumble. Ambas as companhias alegam que o ministro brasileiro praticou censura ao ordenar o bloqueio de contas em redes sociais. O pedido dessas empresas é para que as ordens de Moraes não tenham validade em território americano, o que representa uma inédita contestação jurídica internacional à autoridade de um ministro do STF brasileiro. O caso ganhou ampla repercussão e está sendo acompanhado de perto por membros do Congresso norte-americano.
Fontes próximas ao Supremo relatam que o ambiente interno está tenso. Moraes, apesar de manter o discurso firme, estaria se preparando para possíveis retaliações diplomáticas e jurídicas vindas de fora do país. A possibilidade de sanções, tanto pessoais quanto institucionais, por parte dos Estados Unidos, já é considerada por analistas internacionais como uma medida plausível. A atuação de parlamentares como Eduardo Bolsonaro e Gustavo Gayer em divulgar essas denúncias para a comunidade internacional vem sendo tratada nos bastidores como uma estratégia eficaz de contra-ataque ao que consideram uma ditadura judicial em curso no Brasil.
A narrativa construída por Moraes ao tentar transformar uma postagem nas redes sociais em crime de obstrução judicial reforça a percepção de que o ministro está cada vez mais isolado e pressionado. Os sinais vindos de Washington são claros: a política interna brasileira não está mais imune ao escrutínio internacional, especialmente quando envolve liberdades civis, liberdade de expressão e perseguição política. O desfecho desse impasse ainda é incerto, mas o que se sabe é que a reação internacional só começou. E o próprio Moraes parece ter percebido que os tempos mudaram.