Itamaraty avalia responder postagem do governo americano sobre Brasil

LIGA DAS NOTÍCIAS

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, através do chanceler Mauro Vieira, está avaliando como responder à recente postagem do governo americano que menciona o Brasil e faz uma crítica indireta ao ministro Alexandre de Moraes e ao Supremo Tribunal Federal (STF). A publicação, originária de um órgão vinculado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, trouxe à tona a questão do bloqueio de redes sociais americanas no Brasil, um tema que tem gerado atritos entre os dois países nos últimos meses. Embora o texto não tenha mencionado explicitamente o nome do ministro do STF, a alusão à sua decisão sobre a plataforma Rumble não deixou dúvidas quanto à sua origem.


O episódio gerou discussões internas no Itamaraty, que em reunião com assessores discutiu as possíveis formas de resposta à crítica feita pelo governo dos EUA. Dado o contexto da publicação, que foi feita por um órgão do Departamento de Estado, o ministério brasileiro tende a adotar uma postura pública sobre o assunto, ao contrário de outras manifestações que ocorrem nos bastidores da diplomacia.


O ponto central da crítica americana está relacionado ao bloqueio da plataforma Rumble, uma rede social de vídeos que vem ganhando popularidade entre grupos conservadores dos Estados Unidos. Em um texto publicado nesta quarta-feira (26), um órgão do Departamento de Estado, sem citar diretamente o nome de Moraes, apontou a decisão tomada pelo ministro do STF que afetou a plataforma no Brasil. A postagem foi compartilhada pela Embaixada dos EUA no Brasil, por meio de sua conta na rede social X, e foi escrita em português. Essa foi a primeira vez que um órgão ligado ao governo americano se manifestou publicamente sobre o caso.


A polêmica envolvendo o Rumble e as autoridades brasileiras remonta a uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, que, em 2023, determinou o bloqueio da plataforma no país. A plataforma, que se assemelha ao YouTube, foi acusada de hospedar conteúdos considerados nocivos, especialmente aqueles ligados a movimentos conservadores e à disseminação de teorias da conspiração. Moraes, em sua decisão, argumentou que o Rumble não cumpria as normas de segurança e moderação de conteúdo exigidas pelas autoridades brasileiras. Em resposta, a plataforma recorreu à Justiça dos Estados Unidos, onde entrou com uma ação contra o ministro, alegando censura.


Essa ação nos EUA ganhou ainda mais repercussão quando o Rumble passou a ser apoiado pelo Trump Media & Technology Group, a empresa responsável pela rede social Truth Social, criada pelo ex-presidente Donald Trump. O grupo, que é crítico do governo brasileiro, argumentou que as decisões de Moraes violam a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão, e que, portanto, as ordens do ministro não deveriam ter efeito legal em solo americano.


Essa disputa legal, que já envolve elementos de censura e direitos constitucionais, também carrega um peso político, principalmente após a eleição de Donald Trump. O lobby da família Bolsonaro e de outros setores da oposição no Brasil tem pressionado o governo dos Estados Unidos a tomar uma posição firme contra o STF e suas decisões, como a que envolveu o bloqueio do Rumble. Desde novembro de 2022, com a chegada de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, o Itamaraty tem se empenhado em minimizar os impactos dessas pressões internas e externas. No entanto, agora, com a manifestação oficial do Departamento de Estado, a questão ganhou uma nova dimensão.


A reação do governo brasileiro a esse episódio, portanto, parece ser apenas uma questão de tempo. O Itamaraty já se envolveu em negociações delicadas com representantes do governo dos EUA e com a oposição brasileira, tentando equilibrar as relações diplomáticas e os interesses nacionais. A decisão sobre como se posicionar diante da postagem do governo americano será influenciada tanto pelas implicações jurídicas do caso quanto pelas questões políticas internas que envolvem o STF e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.


O bloqueio de plataformas e a regulação das redes sociais no Brasil continuam sendo temas centrais no debate sobre a liberdade de expressão e a atuação do poder judiciário. O caso do Rumble é um dos mais emblemáticos, não só pela disputa legal em andamento, mas também pelo simbolismo da participação do Trump Media & Technology Group e pela ligação com a política americana. A relação entre os dois países, que tem sido marcada por tensões diplomáticas, agora se vê diante de um novo desafio, com a diplomacia brasileira sendo chamada a lidar com uma situação que envolve questões de liberdade de expressão, censura e direitos constitucionais.


A análise de como o Brasil responderá à crítica americana e o impacto disso nas relações bilaterais será acompanhada de perto, especialmente diante da crescente polarização política tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. O episódio também lança luz sobre o papel crescente das redes sociais na política global, e como as decisões tomadas por um país podem ter repercussões além de suas fronteiras.

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