O gesto de Lula de aderir à "guerra dos bonés" reflete uma estratégia de confronto simbólico com a oposição, que, no sábado passado, já havia demonstrado sua reação a esse novo elemento de propaganda política. Naquele dia, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, foi responsável por distribuir os bonés aos ministros e senadores do governo, que os usaram durante a votação crucial para a eleição dos novos presidentes das duas Casas do Congresso. A iniciativa foi uma maneira de marcar o início do ano legislativo com uma identidade visual alinhada ao governo petista.
O boné azul trazia a mensagem "O Brasil é dos brasileiros", uma frase construída por Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social, e que, na interpretação do governo, visa reforçar a ideia de que o Brasil deve ser um país inclusivo, onde todos têm direito a voz e vez, em contraste com o nacionalismo exacerbado defendido pelos aliados de Bolsonaro e Trump. Esse confronto simbólico ficou mais evidente quando, no dia seguinte, a oposição começou a responder à provocação, criando seus próprios bonés com uma mensagem de tom irônico. Na abertura do ano legislativo, deputados da oposição apareceram com bonés que estampavam a frase "Comida barata novamente, Bolsonaro 2026", uma alusão ao período em que o ex-presidente Jair Bolsonaro governava o Brasil e à sua candidatura futura, como se sugerisse uma retomada de um governo de baixo custo para o cidadão, mas com críticas implícitas às políticas atuais.
A resposta da oposição, liderada principalmente por parlamentares do PL, o partido de Bolsonaro, não se limitou apenas à escolha do slogan, mas também ao tom provocador. Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, afirmou, em tom irônico, que a oposição "copiou e fez melhor" o boné do governo. "A ideia foi do Sidônio. O Sidônio fez, a gente copia e faz melhor. Daqui para frente vai ser assim", declarou o parlamentar, acrescentando que a provocação e a disputa simbólica com os governistas seriam uma marca da política nos próximos tempos.
O episódio dos bonés, embora pareça algo superficial à primeira vista, revela muito sobre o clima tenso e polarizado que marca a política brasileira atualmente. A rivalidade entre os grupos que apoiam o governo Lula e os que se alinham à oposição de Bolsonaro parece ter se intensificado não apenas nas questões políticas concretas, mas também nos símbolos e na linguagem visual, que muitas vezes conseguem gerar reações mais imediatas e profundas nas bases eleitorais.
A "guerra dos bonés" também reflete a crescente personalização da política no Brasil, onde os símbolos e slogans se tornam uma extensão das disputas ideológicas. A disputa não se dá apenas em torno de propostas de governo ou decisões políticas, mas também nos símbolos que cada lado escolhe para representar suas ideias e seus valores. No caso da mensagem "O Brasil é dos brasileiros", o governo parece querer fazer um contraste direto com a ideia de um Brasil voltado para os interesses de um grupo seleto de pessoas, algo que foi associado à era Bolsonaro e seus seguidores. Já o slogan da oposição, "Comida barata novamente, Bolsonaro 2026", sugere uma crítica à atual situação econômica e uma tentativa de ressuscitar as promessas de um governo que, para seus apoiadores, representava uma fase mais favorável aos setores produtivos e ao poder de compra da população.
Esse embate simbólico provavelmente continuará a se expandir à medida que as tensões políticas aumentam e o cenário eleitoral de 2026 começa a se desenhar. A guerra dos bonés, longe de ser um simples jogo de propaganda, simboliza uma divisão profunda no país, que se reflete nas escolhas de linguagem, nos símbolos adotados e na maneira como os políticos buscam se conectar com o público em um momento de grandes desafios econômicos e sociais.