O advogado iniciou a conversa destacando que, com o avanço da politização dentro do STF, tornou-se praticamente impossível que a Corte lide com certos temas sem que esses acabem sendo envoltos em um contexto político. Segundo ele, essa situação compromete o potencial de análise imparcial da Justiça, uma vez que as decisões dos ministros são frequentemente vistas sob uma ótica política. Marsiglia exemplificou a afirmação citando declarações públicas de ministros do STF, como a feita por Luís Roberto Barroso, que disse: "Nós derrotamos o bolsonarismo", em uma fala que, para o especialista, acaba por enfraquecer a imparcialidade da Corte. O advogado observou que, quando uma autoridade judicial se posiciona de maneira tão explícita em relação a questões políticas, isso interfere diretamente no ambiente de julgamentos futuros, colocando em risco a confiança pública no tribunal.
Outro ponto que o professor abordou foi o inquérito das fake news, iniciado em 2019, que, para ele, representa um marco na crescente politização do STF. Marsiglia lembrou que, desde o início desse processo, surgiram questões controversas em relação ao comportamento da Corte, como a definição da “competência absoluta do STF para tudo” e a “inacessibilidade aos autos para advogados”. Esses pontos, segundo ele, têm sido alvo de críticas constantes e gerado um ambiente de desconfiança em torno da maneira como o Supremo conduz certos processos. O advogado afirmou que o STF, ao tomar decisões com base nesse novo entendimento jurídico, acabou criando um precedente perigoso, pois, como ele diz, "quando o STF somou, ali em 2019, 2+2 deu cinco, todas as contas passaram a ser erradas a partir de então". Marsiglia usou essa metáfora para ilustrar como um erro fundamental no início de um processo pode gerar consequências duradouras, comprometendo toda a sequência de decisões futuras da Corte.
A análise de Marsiglia também abordou o impacto de decisões polêmicas no entendimento público sobre o papel do STF. O especialista acredita que, mesmo quando o Supremo acerta em suas decisões após a introdução dessa "politização inicial", suas ações acabam sendo contaminadas por uma percepção de parcialidade. Ele destacou que, a partir do momento em que o STF se torna visto como uma instituição politicamente envolvida, a imparcialidade que seria necessária para julgamentos técnicos é irremediavelmente comprometida, criando um ambiente onde todas as decisões passam a ser interpretadas sob uma ótica política. Isso, segundo ele, gera um ciclo vicioso, no qual a credibilidade do STF é constantemente questionada, independentemente de seus acertos jurídicos.
Marsiglia também abordou a questão do fortalecimento da figura do presidente da Corte, apontando que isso contribui para uma maior personalização do Supremo. O advogado observou que a centralização de poder nas mãos de um único ministro cria uma dinâmica em que as decisões mais polêmicas podem ser associadas a preferências políticas pessoais. Esse fenômeno, segundo o professor, resulta em uma maior polarização dentro do próprio tribunal, algo que se reflete nas decisões e nas reações do público a elas. Para ele, o STF deveria buscar maior colegialidade nas suas decisões, deixando de lado as influências políticas que distorcem o caráter técnico do tribunal.
Ao concluir sua análise, André Marsiglia alertou para os perigos da contínua politização da Corte. Ele enfatizou que o STF, embora ainda seja uma instituição de grande importância jurídica, corre o risco de perder sua função essencial de zelar pela Constituição e pela Justiça, substituindo esse papel por um protagonismo político que compromete sua eficácia. O advogado ressaltou que, em um cenário como o atual, em que os ministros do STF estão profundamente envolvidos em disputas políticas, o tribunal perde a sua capacidade de agir de forma justa e imparcial em casos de grande relevância, como aqueles envolvendo figuras políticas influentes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A crescente politização do Supremo Tribunal Federal tem gerado um ambiente de incerteza e desconfiança, com muitos críticos questionando a integridade da Corte. Para Marsiglia, o desafio agora é encontrar formas de restaurar a imparcialidade e a credibilidade do STF, para que ele possa cumprir seu papel constitucional sem ser afetado por pressões políticas que distorcem o julgamento técnico e justo dos casos que lhe são apresentados. O futuro da Corte, segundo o advogado, depende de um esforço coletivo para resgatar o princípio da independência judicial, essencial para a saúde da democracia e do Estado de Direito.