O clima político brasileiro ganhou novos contornos nesta quarta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou publicamente a ausência do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em uma cerimônia no Palácio do Planalto. O evento marcou a concessão de um trecho da BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, uma obra importante para o estado mineiro. Zema, por sua vez, alegou compromissos prévios e rebateu as críticas com comentários direcionados à gestão petista. A troca de acusações reflete um embate que, segundo analistas, já está sendo moldado por ambições eleitorais para 2026.
Durante a cerimônia, Lula adotou um tom combativo. Sem mencionar diretamente o nome de Zema, o presidente destacou a importância de reconhecer esforços governamentais e acusou o governador de agir movido por interesses políticos. “A palavra obrigado é tão simples, mas para falar obrigado é preciso ter grandeza”, declarou Lula, enfatizando que o governo federal tem trabalhado para atender aos estados de maneira igualitária. Ele mencionou, ainda, que medidas como o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados, sancionado recentemente, foram desenhadas para beneficiar todas as unidades federativas.
A ausência de Zema no evento foi interpretada pelo Planalto como uma atitude calculada, especialmente em um momento em que o governador tem intensificado suas críticas à gestão federal. Zema foi um dos principais opositores aos vetos de Lula no programa de renegociação das dívidas estaduais, alegando que a decisão aumentaria significativamente os custos para Minas Gerais. “Meu foco é trabalhar, não perder tempo com eventos burocráticos”, afirmou o governador em suas redes sociais, destacando que os governos petistas não entregaram as obras prometidas para a BR-381 ao longo de quase 16 anos.
A resposta do governo federal não demorou. O ministro dos Transportes, Renan Filho, apontou que a gestão Lula já realizou quatro leilões rodoviários em Minas apenas no ano passado, mas lamentou a falta de reconhecimento por parte do governo estadual. Ele também criticou a postura de Zema, acusando-o de colocar interesses políticos acima do bem-estar dos cidadãos mineiros. A concessão assinada durante o evento prevê um investimento de R$ 9,2 bilhões ao longo de 30 anos para a revitalização de um trecho de mais de 300 km da BR-381. Segundo Renan Filho, a obra trará segurança para uma das estradas mais perigosas do país.
Além de Renan Filho, outros ministros também aproveitaram a oportunidade para alfinetar o governador mineiro. Rui Costa, chefe da Casa Civil, destacou que as mudanças propostas por Zema no programa de renegociação das dívidas incluíam repassar à União a responsabilidade por débitos contraídos por Minas com bancos internacionais. “Ao invés de agradecer que um presidente colocou as questões políticas de lado, o governador prefere atacar de forma ingrata”, comentou.
A escalada de tensões entre Zema e Lula ocorre em um momento delicado para o governo federal, que busca fortalecer sua comunicação com a população. Recentemente, a gestão petista enfrentou críticas por medidas como a tentativa de regulamentação do Pix, que acabou sendo revertida após reação negativa. O episódio envolvendo a BR-381 é mais um capítulo em uma disputa que parece ir além das questões administrativas, com implicações claras para as próximas eleições presidenciais.
A BR-381, frequentemente chamada de “Rodovia da Morte”, é palco de um alto número de acidentes e mortes. Entre 2018 e 2023, foram registrados quase 4 mil acidentes e mais de 400 mortes na via. Durante a cerimônia, Lula reafirmou seu compromisso com a melhoria da rodovia, citando promessas feitas durante sua campanha de 2022. “Prometi que transformaríamos essa estrada em uma rodovia da vida, e é isso que estamos fazendo hoje”, declarou.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também de Minas Gerais, celebrou a concessão da rodovia e aproveitou para agradecer ao governo federal pela atenção dada ao estado. Em nota, ele destacou que, após décadas de inação, a concessão trará investimentos necessários para garantir a segurança dos motoristas que trafegam pela BR-381.
A troca de farpas entre Lula e Zema evidencia a crescente polarização política no país e a antecipação de estratégias eleitorais. Enquanto o presidente busca reforçar seu legado com obras e programas sociais, Zema se posiciona como um crítico contundente da gestão petista, consolidando sua imagem entre os eleitores de oposição. A BR-381, que já simbolizava a urgência por melhorias estruturais, agora se torna palco de uma disputa política que promete se intensificar nos próximos meses.