A proposta foi sugerida ao governo pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), sob o argumento de que poderia gerar uma economia significativa de R$ 3 bilhões ao evitar o descarte desnecessário de alimentos que ainda seriam seguros para o consumo. No entanto, o anúncio de que a medida estava em análise gerou polêmica e rapidamente se tornou alvo de críticas no ambiente digital, onde opositores do governo aproveitaram a ocasião para reforçar ataques à administração de Luiz Inácio Lula da Silva.
O deputado Nikolas Ferreira, do PL-MG, foi um dos que reagiram publicamente, em tom de ironia: “A picanha não veio e, se vier, será podre”. Essa frase ganhou destaque nas redes sociais, sendo amplamente compartilhada por grupos críticos ao governo. A oposição também argumentou que a proposta traria insegurança aos consumidores e que a alteração poderia ser usada como estratégia para beneficiar grandes corporações, enquanto prejudicaria o consumidor final.
Rui Costa, ao anunciar a desistência da medida, negou que o governo tivesse intenção de implementar mudanças que colocassem em risco a saúde da população. “A ideia foi apresentada pela Abras, mas nunca houve decisão final. Em nenhum momento o governo cogitou adotar práticas que comprometessem a segurança alimentar dos brasileiros”, declarou o ministro, visivelmente acuado pela repercussão negativa.
Internamente, fontes do governo confirmaram que a proposta estava, de fato, sendo avaliada em parceria com o Ministério da Agricultura e outros órgãos relacionados. O objetivo seria modernizar as normas e reduzir o desperdício, alinhando-se a modelos adotados em países da Europa e nos Estados Unidos, onde o sistema “best before” é amplamente utilizado. Contudo, a ideia não avançou diante da pressão popular e do receio de repercussões políticas.
Especialistas no setor alimentício divergem quanto à eficácia do modelo “best before”. Para os defensores, trata-se de uma prática que educa o consumidor a diferenciar entre qualidade e segurança, enquanto críticos alertam para a dificuldade de implementação em um país como o Brasil, onde muitas regiões ainda enfrentam desafios de fiscalização e acesso à informação.
Nas redes sociais, a mobilização contrária à proposta foi intensa, com hashtags como #DataDeValidade e #SegurançaAlimentar liderando os tópicos mais discutidos nos últimos dias. A reação rápida do governo em abandonar a ideia também foi interpretada como um reflexo do peso das redes sociais na política atual, sobretudo em um contexto de polarização crescente.
O episódio trouxe à tona mais um ponto de tensão na relação do governo Lula com a opinião pública. Recentemente, outras propostas, como o polêmico monitoramento do Pix, também foram deixadas de lado após críticas nas plataformas digitais. Esse padrão de recuo demonstra o impacto das redes na condução de políticas públicas e evidencia a dificuldade da administração em manter projetos que enfrentem resistência popular.
A Abras, por sua vez, lamentou a decisão, afirmando que a proposta tinha como principal objetivo combater o desperdício alimentar e gerar economia ao setor produtivo e aos consumidores. Em nota, a entidade declarou: “Seguimos à disposição do governo e da sociedade para buscar soluções que garantam a segurança alimentar e a sustentabilidade no uso de recursos”.
Enquanto isso, a oposição capitaliza o episódio para ampliar suas críticas. O Partido Liberal, ao qual pertence Nikolas Ferreira, destacou que o governo tem apresentado ideias que carecem de análise técnica mais aprofundada, expondo-se a desgastes desnecessários. Em eventos recentes, lideranças da direita reforçaram o discurso de que o governo “age no improviso”, sem considerar o impacto direto sobre a população.
Com a desistência, o modelo atual de validade de alimentos permanece inalterado. Isso significa que, no Brasil, a data de validade continua a indicar o prazo máximo de segurança para o consumo. Após o vencimento, o alimento não deve ser ingerido, conforme estabelece a legislação vigente.
A questão, no entanto, ainda deve gerar debates nos próximos meses. O tema da sustentabilidade e do combate ao desperdício alimentar segue relevante, especialmente em um país onde milhões enfrentam insegurança alimentar. A expectativa é de que o governo busque formas alternativas de abordar o problema, mas sem abrir espaço para críticas que possam comprometer sua imagem.
A desistência da proposta mostra como decisões no âmbito político estão cada vez mais sujeitas à influência das redes sociais e da opinião pública digital. Com a crescente pressão e vigilância, o governo Lula enfrenta o desafio de equilibrar suas ações em meio a um cenário de polarização e críticas constantes. Para os críticos, o recuo é mais uma evidência de falta de planejamento. Para os defensores, uma demonstração de que o governo está atento às demandas da sociedade.