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O bioma mais afetado foi a Amazônia, onde 17,7 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas. Esse valor é mais do que o dobro do total registrado em todo o país em 2023, marcando um recorde histórico dos últimos seis anos na região. A maior parte da área queimada na Amazônia foi de vegetação nativa, com 6,8 milhões de hectares de florestas sendo devastados. Outro dado alarmante é que as áreas de pastagem também sofreram significativamente, com cerca de 5,8 milhões de hectares queimados apenas nesse bioma.
O Cerrado foi o segundo bioma mais impactado, com 9,7 milhões de hectares queimados. O Pantanal perdeu 1,9 milhão de hectares, enquanto a Mata Atlântica teve 1 milhão de hectares consumidos. O Pampa registrou perdas de 3,4 mil hectares e a Caatinga teve 330 mil hectares devastados pelo fogo. O padrão recorrente de queimadas nesses biomas reflete tanto o impacto das mudanças climáticas quanto a pressão causada por atividades humanas, como a expansão agropecuária e o uso inadequado do fogo em práticas agrícolas.
A diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, destacou que o ano de 2024 foi atípico e alarmante, com um aumento expressivo de áreas queimadas em praticamente todos os biomas brasileiros. Segundo ela, o El Niño, classificado como de intensidade moderada a forte, contribuiu diretamente para a amplificação do problema ao prolongar o período de seca e reduzir a umidade da vegetação. Ela ressaltou que os biomas florestais, que geralmente são menos suscetíveis às queimadas, foram particularmente afetados, o que é um sinal de alerta para a gravidade da situação.
Outro ponto relevante apontado pelo estudo foi o impacto significativo do fogo em áreas destinadas à agropecuária. As pastagens foram as mais atingidas, com 6,7 milhões de hectares queimados. Isso reforça a necessidade de melhores práticas de manejo do solo e de políticas públicas que promovam a redução de queimadas como método de limpeza ou renovação de áreas agrícolas.
O aumento das queimadas também trouxe implicações ambientais, sociais e econômicas severas. A perda de vegetação nativa compromete a biodiversidade, afeta a qualidade do solo e contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas. Além disso, o fogo ameaça comunidades locais, especialmente povos indígenas e populações ribeirinhas, que dependem diretamente dos recursos naturais para sua subsistência.
O cenário de 2024 acendeu um alerta sobre a necessidade urgente de ações mais efetivas para combater as queimadas e preservar os biomas brasileiros. A coordenação entre governo, sociedade civil e setor privado é essencial para implementar políticas de prevenção, fiscalização e recuperação das áreas afetadas. Especialistas defendem também o fortalecimento de órgãos ambientais e o aumento de investimentos em tecnologias de monitoramento e controle de incêndios.
Apesar da gravidade da situação, o Brasil enfrenta desafios adicionais relacionados à gestão ambiental. Recentemente, cortes no orçamento destinado ao combate a incêndios foram anunciados em algumas regiões do país, o que pode comprometer ainda mais a capacidade de resposta diante de novos episódios de queimadas em 2025. A crise ambiental evidenciada pelo recorde de queimadas em 2024 é um reflexo da complexa relação entre fatores climáticos, práticas humanas e políticas públicas.
A análise do MapBiomas reforça que a recuperação das áreas queimadas e a prevenção de novos desastres exigem um esforço conjunto e contínuo. O Brasil, como um dos países mais biodiversos do mundo, tem uma responsabilidade global na conservação ambiental. No entanto, sem medidas eficazes e comprometimento político, o país corre o risco de enfrentar consequências ainda mais devastadoras nos próximos anos.