Área queimada no Brasil em 2024 ultrapassa o tamanho da Itália

Caio Tomahawk

 

As queimadas no Brasil atingiram números alarmantes em 2024, com mais de 30,8 milhões de hectares consumidos pelo fogo ao longo do ano. Segundo um levantamento realizado pelo MapBiomas, a área queimada no período foi maior do que todo o território da Itália, representando um aumento de 79% em relação a 2023. Essa alta expressiva foi impulsionada por um período de seca severa, agravado pelo fenômeno El Niño, que intensificou as condições climáticas propícias para a propagação do fogo.

O bioma mais afetado foi a Amazônia, onde 17,7 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas. Esse valor é mais do que o dobro do total registrado em todo o país em 2023, marcando um recorde histórico dos últimos seis anos na região. A maior parte da área queimada na Amazônia foi de vegetação nativa, com 6,8 milhões de hectares de florestas sendo devastados. Outro dado alarmante é que as áreas de pastagem também sofreram significativamente, com cerca de 5,8 milhões de hectares queimados apenas nesse bioma.

O Cerrado foi o segundo bioma mais impactado, com 9,7 milhões de hectares queimados. O Pantanal perdeu 1,9 milhão de hectares, enquanto a Mata Atlântica teve 1 milhão de hectares consumidos. O Pampa registrou perdas de 3,4 mil hectares e a Caatinga teve 330 mil hectares devastados pelo fogo. O padrão recorrente de queimadas nesses biomas reflete tanto o impacto das mudanças climáticas quanto a pressão causada por atividades humanas, como a expansão agropecuária e o uso inadequado do fogo em práticas agrícolas.

A diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, destacou que o ano de 2024 foi atípico e alarmante, com um aumento expressivo de áreas queimadas em praticamente todos os biomas brasileiros. Segundo ela, o El Niño, classificado como de intensidade moderada a forte, contribuiu diretamente para a amplificação do problema ao prolongar o período de seca e reduzir a umidade da vegetação. Ela ressaltou que os biomas florestais, que geralmente são menos suscetíveis às queimadas, foram particularmente afetados, o que é um sinal de alerta para a gravidade da situação.

Outro ponto relevante apontado pelo estudo foi o impacto significativo do fogo em áreas destinadas à agropecuária. As pastagens foram as mais atingidas, com 6,7 milhões de hectares queimados. Isso reforça a necessidade de melhores práticas de manejo do solo e de políticas públicas que promovam a redução de queimadas como método de limpeza ou renovação de áreas agrícolas.

O aumento das queimadas também trouxe implicações ambientais, sociais e econômicas severas. A perda de vegetação nativa compromete a biodiversidade, afeta a qualidade do solo e contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas. Além disso, o fogo ameaça comunidades locais, especialmente povos indígenas e populações ribeirinhas, que dependem diretamente dos recursos naturais para sua subsistência.

O cenário de 2024 acendeu um alerta sobre a necessidade urgente de ações mais efetivas para combater as queimadas e preservar os biomas brasileiros. A coordenação entre governo, sociedade civil e setor privado é essencial para implementar políticas de prevenção, fiscalização e recuperação das áreas afetadas. Especialistas defendem também o fortalecimento de órgãos ambientais e o aumento de investimentos em tecnologias de monitoramento e controle de incêndios.

Apesar da gravidade da situação, o Brasil enfrenta desafios adicionais relacionados à gestão ambiental. Recentemente, cortes no orçamento destinado ao combate a incêndios foram anunciados em algumas regiões do país, o que pode comprometer ainda mais a capacidade de resposta diante de novos episódios de queimadas em 2025. A crise ambiental evidenciada pelo recorde de queimadas em 2024 é um reflexo da complexa relação entre fatores climáticos, práticas humanas e políticas públicas.

A análise do MapBiomas reforça que a recuperação das áreas queimadas e a prevenção de novos desastres exigem um esforço conjunto e contínuo. O Brasil, como um dos países mais biodiversos do mundo, tem uma responsabilidade global na conservação ambiental. No entanto, sem medidas eficazes e comprometimento político, o país corre o risco de enfrentar consequências ainda mais devastadoras nos próximos anos.

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