O início do fórum foi dominado pelas reflexões sobre o impacto das mudanças no cenário internacional, especialmente após a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O ex-presidente Michel Temer foi um dos que se manifestaram sobre as relações entre o Brasil e os Estados Unidos, apontando que essas devem ser mais institucionais do que pessoais, sugerindo uma abordagem menos voltada para relações individuais, como as que ocorreram entre Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. Temer criticou o comentário de Trump, feito durante a posse, em que o presidente americano afirmou que “não precisa do Brasil”. Apesar disso, o ex-presidente fez um apelo pela manutenção de um relacionamento harmônico e construtivo, destacando que o Brasil não deve escalar as declarações e, em vez disso, focar na relação institucional com os Estados Unidos.
A ênfase de Temer foi na necessidade de reconhecer o poder da nação americana, embora fosse importante fazer observações críticas quando necessário. O ex-presidente destacou que, em tempos de incerteza e polarização, o Brasil deve procurar manter uma postura diplomática e não entrar em disputas que possam prejudicar os interesses nacionais. Essa visão foi compartilhada também por outros participantes do fórum, que destacaram a importância da diplomacia e do entendimento institucional em tempos de instabilidade global.
O debate sobre a polarização política no Brasil foi outro tema central das discussões. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, participou do evento por videoconferência e alertou para os riscos que a polarização representa para a democracia brasileira. Em seu discurso, Pacheco destacou a necessidade de uma união entre as forças responsáveis do país para enfrentar o retrocesso democrático que, segundo ele, ainda é promovido por alguns setores dentro e fora do Brasil. Ele mencionou a presença de ideologias obscurantistas e negacionistas, que têm ganhado força em vários países, e enfatizou que o Brasil precisa se manter firme em seus valores democráticos, evitando que o passado sombrio se repita.
Luis Roberto Barroso, presidente do STF, também abordou o tema da polarização política, apontando que, no mundo contemporâneo, as pessoas tendem a criar suas próprias narrativas, o que prejudica a construção de uma opinião pública sólida. Ele destacou que, em tempos de fake news e manipulação da informação, é fundamental retomar o compromisso com a verdade e com os fatos, algo que, segundo Barroso, deveria ser mais valorizado em todas as esferas da sociedade.
Outro ponto de destaque do evento foi a situação econômica do Brasil, que foi amplamente discutida pelo presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Isaac Sidney. Ele ressaltou que o Brasil está atravessando um momento de grande pressão econômica, com um cenário externo conturbado e desafios internos que exigem cautela e responsabilidade. Sidney alertou para o alto nível de endividamento do país, ressaltando que, apesar dos esforços da equipe econômica, o Brasil não pode esperar por uma melhora no cenário internacional para resolver suas questões fiscais. O presidente da Febraban defendeu um endurecimento do arcabouço fiscal, destacando que o plano de ajuste nas receitas já se esgotou. Sidney também fez um alerta sobre o risco de uma escalada populista no país, caso a inflação continue a subir, e enfatizou que o cuidado com a inflação deve ser redobrado tanto no Brasil quanto no mundo.
Enquanto isso, a 120 km de Zurique, em Davos, o Fórum Econômico Mundial também seguia seu curso, aguardando a participação de Donald Trump, que falaria por videoconferência. A expectativa era grande sobre como o ex-presidente dos Estados Unidos se posicionaria em relação ao multilateralismo, ao livre comércio e às guerras em andamento, como as da Ucrânia e Gaza. Além disso, havia a especulação sobre possíveis declarações polêmicas de Trump, incluindo menções à Groenlândia, ao Canal do Panamá e até ao Canadá, questões que geraram tensões geopolíticas em seus últimos anos de governo.
O Brazil Economic Forum, portanto, não apenas refletiu sobre os desafios internos do Brasil, mas também se inseriu em um debate global mais amplo sobre os rumos da economia, da política e das relações internacionais, em um momento de grandes incertezas no cenário mundial. O evento serviu como um espaço para a troca de ideias e para a reflexão sobre como o Brasil pode se posicionar frente a um futuro imprevisível e cada vez mais complexo.