Globo quer 50% de atrizes e atores negros em novelas até 2030

LIGA DAS NOTÍCIAS

A Rede Globo anunciou oficialmente que pretende alcançar, até o ano de 2030, a meta de escalar pelo menos metade de seus elencos de novelas com atores e atrizes negros. A informação foi revelada em um relatório de ESG, documento que reúne diretrizes e metas nas áreas ambiental, social e de governança, e que norteia o posicionamento corporativo da emissora nos próximos anos. O dado foi divulgado pelo colunista Gabriel Vaquer, do portal F5, ligado à Folha de S.Paulo, e imediatamente gerou debates sobre representatividade, identidade racial e critérios de escolha no mercado artístico brasileiro.


Segundo o relatório, a emissora alcançou, em 2024, o índice de 43% de presença de atores negros nas novelas exibidas ao longo do ano. Este seria, de acordo com a própria Globo, o maior número já registrado desde que passou a estabelecer metas raciais internas, a partir de 2022. Ainda segundo o levantamento, as produções Renascer e Volta por Cima foram as que apresentaram a maior divisão racial proporcional entre negros e brancos, contribuindo significativamente para o avanço da meta traçada.


A iniciativa da Globo ocorre em um contexto internacional de cobrança por maior diversidade racial e inclusão de minorias em ambientes midiáticos e corporativos. O movimento se intensificou após ondas de protestos globais por igualdade racial e ganhou força no Brasil em razão de uma série de debates públicos que passaram a questionar a hegemonia de padrões estéticos e culturais nos meios de comunicação. A emissora, ciente das críticas e da pressão social, decidiu adotar formalmente critérios raciais para a composição de elencos, sob o argumento de que a televisão deve refletir a diversidade do povo brasileiro.


O plano da Globo, porém, vai além da representação diante das câmeras. A empresa também pretende atingir a marca de 50% de funcionários negros entre os profissionais contratados para cargos administrativos e técnicos. Atualmente, essa porcentagem também gira em torno de 43%, número considerado expressivo por analistas que acompanham as transformações internas na emissora. No aspecto de gênero, a Globo afirma já ter superado suas próprias expectativas: no último ano, 53% das contratações foram de mulheres, ultrapassando a meta inicial de 50%.


Ainda que a iniciativa seja apresentada como um avanço civilizatório e um reconhecimento da pluralidade racial brasileira, as metas raciais da Globo geram reações distintas entre o público. De um lado, setores progressistas aplaudem a medida como uma forma concreta de inclusão e reparação histórica, em um país onde a maioria da população se declara preta ou parda, mas permanece sub-representada em cargos de visibilidade e liderança. De outro lado, críticos levantam questões sobre os critérios utilizados para as contratações e denunciam o que chamam de politização do mercado de trabalho e da arte, temendo que a busca por metas numéricas possa sobrepor a avaliação por mérito, experiência ou talento.


Há também uma camada de crítica mais profunda, voltada à apropriação do discurso identitário por grandes corporações como uma estratégia de marketing institucional. Para esses críticos, a Globo estaria utilizando a pauta racial como ferramenta de reposicionamento diante de um público cada vez mais segmentado e exigente. A adoção de políticas de ESG, nesse sentido, seria menos um compromisso com mudanças estruturais e mais uma resposta calculada às pressões do mercado publicitário e aos indicadores de aceitação social.


Independentemente das motivações, o fato é que a emissora mais influente do Brasil está sinalizando uma mudança de postura em relação às suas próprias práticas históricas. A Globo, que durante décadas foi criticada por reproduzir padrões estéticos eurocêntricos e por dar espaço limitado a personagens negros, agora busca se apresentar como protagonista de uma nova era de diversidade e representatividade.


O desafio, no entanto, não está apenas nos números ou nas metas estabelecidas em papel. Resta saber se essas transformações ocorrerão de forma orgânica e consistente, ou se ficarão restritas a gestos simbólicos e ações pontuais. A televisão ainda é um dos principais veículos de formação cultural e identitária no Brasil, e o que se vê na tela tem impacto direto na maneira como as pessoas se enxergam e são enxergadas pela sociedade.


Com 2030 se aproximando, a cobrança será cada vez maior. A audiência, atenta, observa se a promessa de diversidade será cumprida com autenticidade ou apenas utilizada como vitrine de boas intenções. Enquanto isso, os bastidores da televisão brasileira entram em um novo capítulo, onde a cor da pele passa a ter papel central nas decisões de elenco e nas estratégias de posicionamento das maiores empresas de comunicação do país.


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