Com apenas um print, Bolsonaro desmonta depoimento de ex-comandante da Aeronáutica

LIGA DAS NOTÍCIAS
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O tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, prestou nesta quarta-feira um dos depoimentos mais contundentes até agora colhidos pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal no âmbito da ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. De forma direta e sem rodeios, Baptista Júnior afirmou que reuniões foram realizadas com a finalidade de discutir a possibilidade de um golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente da República.


O depoimento, tomado no âmbito do processo que investiga militares e aliados do então presidente Jair Bolsonaro, revelou que foi apresentada uma minuta com teor golpista aos comandantes das Forças Armadas. Segundo o tenente-brigadeiro, esse documento foi discutido em encontros realizados entre integrantes do governo e setores militares, numa tentativa de encontrar respaldo dentro das Forças para uma intervenção contra o resultado das urnas.


Em sua fala aos ministros do Supremo, Baptista Júnior detalhou ainda que um brainstorming teria sido realizado durante uma dessas reuniões, onde ideias foram levantadas sobre formas de barrar a posse de Lula. Dentre as sugestões discutidas, estaria a prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral na ocasião. A menção a Moraes teria sido feita como uma tentativa de neutralizar o principal nome da cúpula do Judiciário que resistia abertamente a qualquer tentativa de ruptura institucional.


As revelações de Baptista Júnior causaram forte impacto, pois tratam-se de declarações feitas por um dos mais altos oficiais da Aeronáutica, com conhecimento direto dos bastidores do período pós-eleitoral de 2022. A referência direta à existência de reuniões golpistas e à circulação de uma minuta ilegal reforça a linha de investigação adotada pela Procuradoria-Geral da República, que acusa parte do entorno de Bolsonaro de ter planejado um movimento para subverter a ordem constitucional.


A repercussão política foi imediata. O ex-presidente Jair Bolsonaro, citado indiretamente nas falas do militar, reagiu por meio de suas redes sociais. Em uma publicação breve, ele compartilhou um print de uma manchete e sugeriu que o conteúdo do depoimento seria falso ou distorcido. Sem se aprofundar nas acusações, Bolsonaro buscou desacreditar a narrativa apresentada no Supremo, como tem feito desde o início das investigações. Seus aliados rapidamente replicaram a publicação, tentando construir a ideia de que as denúncias seriam parte de uma perseguição política.


O depoimento também entra em choque com as declarações prestadas pelo general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que também compareceu ao STF nesta semana como testemunha. Freire Gomes havia negado ter dado voz de prisão a Bolsonaro ou ter participado de qualquer articulação golpista. No entanto, o próprio Baptista Júnior, ao ser questionado, esclareceu que o general não chegou a dar uma ordem formal, mas teria alertado Bolsonaro que, caso fosse decretada uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para impedir a posse de Lula, ele poderia ser preso.


Além disso, Baptista Júnior revelou que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria adotado postura distinta da dos demais comandantes e colocado as tropas navais à disposição de Jair Bolsonaro. Essa divergência entre os chefes das Forças Armadas escancara o nível de tensão e divisão que tomou conta do alto comando militar no período imediatamente anterior à posse do novo governo.


A fala do ex-comandante da Aeronáutica reforça a tese de que o Brasil viveu um momento de extrema instabilidade democrática, com setores do poder tentando manobrar para evitar a alternância no Executivo. A referência à prisão de Alexandre de Moraes expõe a gravidade dos planos em discussão, demonstrando que se tratava de muito mais do que discursos exaltados ou opiniões políticas.


Enquanto o STF avança na coleta de provas e depoimentos, o cenário político permanece polarizado. De um lado, os que consideram as investigações uma resposta necessária às ameaças à democracia. Do outro, os que enxergam nas acusações um movimento para atingir a imagem de Bolsonaro e seus apoiadores. O depoimento de Baptista Júnior, no entanto, adiciona uma nova camada de seriedade ao processo e amplia a pressão sobre os demais militares e civis que participaram das reuniões em questão.


Nos próximos dias, novos desdobramentos são esperados, à medida que o Supremo ouve mais testemunhas e confronta versões conflitantes. O Brasil observa atentamente um capítulo delicado de sua história recente, em que oficiais da mais alta patente das Forças Armadas expõem, sob juramento, bastidores de uma tentativa concreta de ruptura institucional que poderia ter mergulhado o país em um cenário de incerteza e autoritarismo.


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June 22, 2025