Da UTI, Bolsonaro critica asilo diplomático à ex-primeira dama do Peru

LIGA DAS NOTÍCIAS

Internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após uma cirurgia para tratar uma obstrução intestinal, o ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a se manifestar nas redes sociais. Apesar do quadro de saúde delicado, ele utilizou o momento para criticar duramente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial pela concessão de asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia. Condenada por lavagem de dinheiro, Heredia chegou ao Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), após seu pedido ser aceito com base na Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, acordo firmado por Brasil e Peru.


Em sua publicação, Bolsonaro demonstrou indignação com o gesto do governo brasileiro. Segundo ele, a concessão de asilo a figuras condenadas por crimes de corrupção configura uma inversão de valores e fere a dignidade nacional. O ex-presidente afirmou que, mesmo internado e recebendo notícias com atraso, percebe o país sendo entregue ao autoritarismo e ao escárnio internacional. Para Bolsonaro, o governo Lula acolhe como perseguidos políticos aqueles que, na verdade, roubaram dos próprios povos. Ele ressaltou que o transporte de Nadine Heredia pela FAB e sua recepção oficial demonstram uma distorção do instituto do asilo, que estaria sendo utilizado para beneficiar pessoas com histórico criminal, em vez de proteger verdadeiros perseguidos políticos.


O caso de Heredia se tornou um novo ponto de tensão diplomática entre Brasil e Peru. A ex-primeira-dama, ao lado do marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foi condenada a 15 anos de prisão por envolvimento em um esquema de recebimento ilegal de recursos provenientes da construtora brasileira Odebrecht e do governo venezuelano. Os valores, segundo a Justiça peruana, foram usados para financiar campanhas presidenciais em 2006 e 2011. Apesar da condenação, Heredia alegou sofrer perseguição política, motivo pelo qual recorreu ao governo brasileiro em busca de proteção diplomática.


Além da crítica ao asilo concedido a Heredia, Bolsonaro também abordou em sua mensagem outra decisão recente da esfera jurídica: a suspensão do processo de extradição do cidadão búlgaro Vasil Georgiev Vasilev, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes justificou sua decisão com base na recusa das autoridades espanholas em extraditar o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio ao Brasil, ato que teria ferido o princípio da reciprocidade entre os dois países. Para Bolsonaro, essa decisão representa uma retaliação diplomática disfarçada e contribui para uma imagem negativa do Brasil no cenário internacional.


Segundo o ex-presidente, a justiça está sendo instrumentalizada e usada como arma política. Ele mencionou que países como Espanha, Estados Unidos e Argentina já reconhecem motivações políticas por trás de decisões judiciais tomadas no Brasil e que, em sua visão, há uma criminalização absurda da opinião no país. Em tom de desabafo, Bolsonaro lamentou o que considera ser um uso indevido do sistema judicial para perseguir opositores e proteger aliados do governo atual.


No mesmo pronunciamento, Bolsonaro aproveitou para falar brevemente sobre seu estado de saúde. Ele destacou que os últimos dias exigiram silêncio, paciência e dedicação total à sua recuperação, mas garantiu que segue firme, contando com o apoio de uma equipe médica dedicada, da família e das orações de seus apoiadores. A cirurgia pela qual passou durou cerca de 12 horas e teve como objetivo a remoção de aderências intestinais e a reconstrução de parte da parede abdominal, sequelas de procedimentos anteriores realizados desde o atentado que sofreu em 2018.


O boletim médico mais recente, divulgado nesta sexta-feira, informou que Bolsonaro apresenta boa evolução clínica e não teve intercorrências. No entanto, ainda não há previsão de alta. Em tom emocional, o ex-presidente declarou que “há pausas que não interrompem, apenas preparam”, e agradeceu pelas mensagens de apoio que vem recebendo de parlamentares brasileiros e internacionais.


A internação de Bolsonaro, aliada às críticas incisivas ao governo Lula e ao STF, volta a reacender a polarização política no país. Seus apoiadores intensificaram manifestações nas redes sociais, enquanto opositores acusam o ex-presidente de tentar manipular a opinião pública mesmo em condições delicadas de saúde. O episódio envolvendo Nadine Heredia, por sua vez, promete gerar novos desdobramentos diplomáticos e políticos, à medida que se discute o limite entre o uso legítimo do asilo e sua eventual instrumentalização política.

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