O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, iniciou os trabalhos ao ler seu parecer sobre a denúncia, seguida pela manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Após, os advogados dos oito denunciados apresentaram seis questionamentos processuais, os quais foram todos rejeitados pelos ministros. O presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, informou que, no retorno do julgamento, será decidida a votação sobre o recebimento ou a rejeição da denúncia. Caso o STF aceite a denúncia, os envolvidos se tornarão réus e o processo seguirá na Corte, com possibilidade de condenações ou absolvições.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) foi dividida em cinco núcleos, e a análise no STF começou com o primeiro, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras figuras de destaque do seu governo. Além de Bolsonaro, estão envolvidos no primeiro núcleo da denúncia figuras como Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, além de ex-candidato a vice-presidente; Alexandre Ramagem, ex-presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Almir Garnier, almirante de esquadra que comandou a Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.
O julgamento de terça-feira foi marcado por tensões e discussões sobre a legalidade do processo. O ministro Alexandre de Moraes, durante sua fala, ressaltou o impacto das "milícias digitais" no andamento do julgamento, mencionando as pressões externas e os ataques que têm sido feitos aos juízes e aos envolvidos no caso. Ele fez referência a um cenário em que a democracia brasileira está sendo desafiada por uma série de ações coordenadas nas redes sociais, com o intuito de minar a confiança no processo judicial e nas autoridades. Esses ataques, segundo Moraes, são um reflexo de uma tentativa de desestabilizar as instituições do país.
Por sua vez, o procurador-geral Paulo Gonet apresentou argumentos sólidos sobre os possíveis vínculos entre os denunciados e as ações que poderiam ter sido articuladas para desestabilizar o processo eleitoral e a ordem constitucional. Gonet também fez uma análise detalhada sobre a intenção de alguns membros do governo Bolsonaro de não respeitar o resultado das urnas e as tentativas de articulação de um golpe, apontando como esse conjunto de ações configura um plano para reverter a vitória do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A sessão foi marcada por uma série de interações entre os advogados dos acusados e os ministros do STF. Os advogados questionaram a legalidade do processo, alegando que não havia provas suficientes para sustentar a acusação de tentativa de golpe. Contudo, os pedidos de anulação ou revisão da denúncia foram todos recusados pelos ministros da Primeira Turma. Esse posicionamento do STF reforça a intenção de seguir com a análise detalhada dos fatos e de não ceder às pressões externas.
A decisão sobre o caso terá repercussões significativas para o cenário político e jurídico do Brasil. Caso a denúncia seja aceita, o processo seguirá para a fase de instrução, onde os acusados terão a oportunidade de se defender. O julgamento pode se arrastar por meses, e a definição de culpabilidade ou inocência estará nas mãos do STF, que tem o poder de decidir sobre as penas caso haja condenação.
A expectativa é de que, com a continuidade do julgamento na quarta-feira, os ministros tomem uma posição definitiva sobre o recebimento da denúncia. A decisão do STF será crucial para determinar se o país vai seguir com uma investigação mais aprofundada sobre a tentativa de golpe ou se o caso será arquivado. Enquanto isso, o debate sobre a legitimidade das ações do ex-presidente Bolsonaro e seus aliados continua a ser um tema central no cenário político brasileiro.
O desenrolar desse processo é acompanhado de perto pela sociedade, especialmente pelos defensores da democracia, que veem a ação como uma oportunidade de reafirmar o compromisso com o Estado de Direito no Brasil.