Padilha nomeia ex-investigado pela PF para controlar R$ 100 bi de verba da Saúde

LIGA DAS NOTÍCIAS

O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez uma escolha polêmica ao nomear Mozart Sales para comandar a Secretaria de Atenção Especializada, uma das áreas mais importantes da pasta, com orçamento estimado em R$ 100 bilhões para 2025. A Secretaria tem como principais responsabilidades a gestão de programas que envolvem tratamentos de alta complexidade, doenças raras e a organização de unidades de saúde como as UPAs. Além disso, será encarregada de gerenciar a implementação de políticas voltadas à redução das filas de atendimentos especializados e cirurgias, um dos focos principais da gestão Padilha.


A nomeação de Mozart Sales, no entanto, gerou controvérsia devido ao seu envolvimento passado com investigações da Polícia Federal. Sales foi exonerado da direção da Hemobrás, uma estatal ligada ao Ministério da Saúde, em 2016, após a deflagração da Operação Pulso, que investigou supostos desvios de recursos e manipulação de licitações na empresa. Durante a operação, surgiram evidências de irregularidades, como o encontro de dinheiro sendo lançado pela janela. Apesar das suspeitas, Sales não foi indiciado e as investigações foram arquivadas, com a Polícia Federal concluindo que ele não teve participação nos supostos crimes.


Padilha, por sua vez, defende a escolha de Sales, alegando que não existem processos ou investigações em curso que comprometam a nomeação. O Ministério da Saúde emitiu uma nota esclarecendo que a apuração sobre as acusações contra Sales foi encerrada, sem qualquer denúncia formal. Para o ministro, Sales é um profissional competente e confiável, com quem mantém uma amizade desde os tempos de faculdade, e que possui experiência relevante na área da saúde pública.


Mozart Sales, embora tenha enfrentado dificuldades em sua trajetória política, tem uma longa carreira dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) e já exerceu funções importantes no governo, incluindo sua atuação como assessor de Padilha na Secretaria de Relações Institucionais. Nesse cargo, Sales foi responsável pela intermediação entre o Ministério da Saúde e outros órgãos do governo, além de atuar na liberação de recursos para os estados e municípios. Essa função gerou, inclusive, atritos com parlamentares do centrão, devido à percepção de favorecimento político na distribuição das verbas, sem a devida transparência.


Na época, houve reportagens que indicaram que Sales esteve diversas vezes no Ministério da Saúde sem que isso fosse registrado oficialmente em sua agenda. Essas visitas não constavam nos registros oficiais, mas foram identificadas por meio de registros de entrada e saída no edifício do ministério. A prática, segundo as investigações, teria sido uma maneira de evitar a formalização de pedidos de recursos que estavam sendo feitos com base em interesses políticos, ao invés de critérios técnicos e administrativos.


Além disso, a escolha de Sales para o cargo gerou questionamentos também fora do governo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), uma das principais vozes da oposição, solicitou explicações públicas ao ministro Padilha sobre a nomeação de Sales, considerando o histórico investigativo do ex-assessor. Damares destacou que a nomeação de uma pessoa com esse passado poderia prejudicar a credibilidade do governo no que se refere à gestão de recursos públicos na área da saúde.


Por outro lado, no governo, a nomeação é vista como uma forma de Padilha consolidar alianças políticas internas dentro do PT. Sales, além de ser um aliado de longa data do ministro, pertence à mesma corrente do partido, a CNB (Construindo um Novo Brasil), o que facilita a articulação política dentro do governo. A nomeação também é vista como uma resposta às pressões de diversos setores do PT por mais representatividade no comando da Saúde, uma vez que a pasta enfrenta desafios significativos, como a execução de grandes programas de saúde pública e a gestão de um orçamento de R$ 100 bilhões.


A Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, que agora estará sob a responsabilidade de Mozart Sales, tem uma enorme responsabilidade, dado que gerencia o controle de qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e coordena recursos destinados a tratamentos médicos especializados. A secretaria também tem um papel crucial no processo de certificação de entidades beneficentes que prestam serviços complementares à rede pública de saúde, um trabalho que exige grande capacidade técnica e administrativa.


A gestão de Nísia Trindade à frente do Ministério da Saúde, que incluiu episódios de polêmicas como o favorecimento político de cidades e nomeações questionáveis, já havia gerado desgaste dentro e fora do governo. Nesse contexto, a nomeação de Mozart Sales para um cargo tão relevante na pasta será observada com atenção. Resta saber se a sua atuação à frente da Secretaria será marcada pela eficiência na gestão dos recursos ou se as suspeitas que cercam seu nome em investigações anteriores poderão afetar a implementação de programas essenciais para a saúde pública brasileira.

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