Bolsonaro se referiu ao processo judicial que enfrenta, incluindo uma denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderá levar o ex-presidente e sete de seus aliados à condição de réus por supostas tentativas de reverter o resultado das eleições de 2022. O julgamento da denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) está marcado para o dia seguinte à sua declaração, o que elevou ainda mais a tensão em torno do tema.
O ex-presidente foi muito claro ao afirmar que a sua prisão não só seria um golpe político, mas também uma ameaça à sua integridade física. “Não tenho a menor dúvida de que em 30 dias, no máximo, me matam. Pelo que eu conheço, isso é certo", declarou. A fala gerou repercussão, principalmente entre seus seguidores, que o consideram alvo de uma grande perseguição por parte das elites políticas e da mídia. Esse temor de Bolsonaro não é novo, já que, em outra entrevista, no dia 14 de março, ele expressou preocupação com o risco de ser envenenado caso fosse detido.
Ao longo da entrevista, Bolsonaro também fez duras críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialmente em relação à atuação do órgão nas últimas eleições. Segundo ele, o TSE teria promovido campanhas para incentivar eleitores jovens, de 16 e 17 anos, a obterem o título de eleitor, o que teria influenciado negativamente seus resultados nas urnas. Para o ex-presidente, a mobilização de jovens para as urnas teria contribuído com a vitória de seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, o que ele considera uma interferência externa no processo eleitoral.
Além de suas preocupações com o sistema judicial e eleitoral, Bolsonaro também aproveitou a oportunidade para discutir sua agenda política, que segue sendo trabalhada em encontros e alianças com figuras como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, do PSD. Este encontro teve como foco o fortalecimento de alianças visando as eleições municipais de 2024 e as eleições presidenciais de 2026. Fontes próximas ao ex-presidente indicam que ele tem procurado aliados políticos para se proteger de possíveis desdobramentos jurídicos e para manter sua base mobilizada.
Em um momento da entrevista, Bolsonaro também fez uma comparação entre sua trajetória e a do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele mencionou a recente tentativa de atentado contra Trump, que sobreviveu a um tiro em um comício, e usou isso para reforçar a ideia de que ambos enfrentam perseguições semelhantes por parte das elites políticas e da mídia. O ex-presidente brasileiro ainda comentou sobre o episódio em que sofreu uma facada durante a campanha de 2018, afirmando que sua sobrevivência foi um "milagre" e que, assim como Trump, ele também enfrenta forças poderosas que tentam impedi-lo de voltar ao poder.
A comparação com Trump reflete a narrativa que Bolsonaro tem tentado consolidar entre seus seguidores, de que ele é uma vítima de uma grande conspiração. Essa retórica tem sido uma constante desde que ele deixou o cargo de presidente, em 2023, e suas declarações de que poderia ser preso são interpretadas por muitos como parte de sua estratégia política para angariar apoio popular e para tentar evitar um desfecho desfavorável no processo judicial.
O julgamento que ocorrerá no STF promete ser um dos momentos mais críticos para Bolsonaro desde o fim de seu mandato. Caso seja aceita a denúncia da PGR, ele poderá ser formalmente acusado de tentar subverter o processo eleitoral e, com isso, enfrentar uma série de processos judiciais que podem culminar em sua prisão. A possível detenção de Bolsonaro é vista como um divisor de águas na política brasileira, dividindo a opinião pública entre aqueles que acreditam que ele deve ser responsabilizado pelos seus atos e os que veem na prisão uma tentativa de silenciá-lo e afastá-lo das eleições de 2026.
A expectativa é que, caso a prisão aconteça, Bolsonaro possa mobilizar seus apoiadores e convocar manifestações nas ruas, o que pode aumentar ainda mais a tensão política no país. A prisão de uma figura tão polarizadora como o ex-presidente tem o potencial de modificar os rumos da política brasileira nos próximos anos, seja reforçando a sua base de apoio ou criando novas divisões no cenário político já conturbado.