Pedro Lupion, presidente da FPA, destacou que a tarifa de importação, embora seja uma tentativa de solução, não aborda os problemas estruturais do agronegócio brasileiro. “As medidas anunciadas, como a tarifa de importação de gêneros alimentícios, acabam não resolvendo o problema a curto prazo”, afirmou. O parlamentar mencionou que o custo de produção no Brasil está elevado devido a diversos fatores, como a alta dos fretes e a falta de infraestrutura, o que dificulta a competitividade do setor.
Lupion explicou que, além da alta nos custos de transporte, o setor enfrenta uma série de gargalos logísticos e administrativos, como a falta de capacidade de armazenamento e problemas nas rodovias brasileiras, que afetam diretamente a eficiência da cadeia produtiva. De acordo com o presidente da FPA, o preço dos fretes está praticamente o dobro do que era na safra anterior, o que agrava ainda mais a situação de um setor que já enfrenta altos custos operacionais.
A senadora Tereza Cristina, uma das principais lideranças do setor agropecuário no Congresso, também se posicionou contra as medidas do governo, classificando-as como ineficazes e pouco realistas. Ela questionou a lógica por trás da proposta de importar alimentos para reduzir preços no Brasil, dado que o país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. “De onde vamos importar? Onde temos carne com o mesmo preço da carne brasileira para trazer ao Brasil e reduzir os preços?”, perguntou a senadora, ressaltando que não faz sentido importar produtos a preços mais baixos quando o Brasil tem uma produção suficiente e de qualidade.
Tereza Cristina também enfatizou que o setor agropecuário não pode ser responsabilizado pelo aumento dos preços. Para ela, os produtores estão cumprindo seu papel ao fornecer alimentos em uma quantidade suficiente, mas enfrentam desafios econômicos que não são resolvidos com soluções pontuais como a redução de tarifas de importação. A senadora defendeu que, para que os preços dos alimentos diminuam de forma sustentável, é preciso que a economia brasileira enfrente seus problemas estruturais, como a necessidade de ajustes fiscais e a redução dos gastos públicos.
Em uma reunião da FPA com o governo nesta terça-feira (11/3), foram apresentadas alternativas que envolvem a tributação de insumos agropecuários e a criação de soluções para os problemas logísticos. Entre as propostas discutidas estavam melhorias na infraestrutura do país, como a construção de mais armazéns e a modernização das rodovias, para reduzir custos de transporte e melhorar a distribuição dos produtos. Essas medidas, de acordo com os parlamentares, poderiam resultar em uma queda mais significativa e duradoura nos preços.
A decisão do governo de zerar a tarifa de importação foi uma resposta à crescente pressão sobre os preços dos alimentos, que têm sido uma das principais fontes de insatisfação da população com o governo. No entanto, para muitos representantes do setor agropecuário, a medida não ataca as causas fundamentais do aumento dos preços, que estão relacionadas a problemas estruturais dentro do Brasil. Eles afirmam que a solução para essa crise não está na importação de alimentos, mas na melhoria da competitividade da produção local, que depende de investimentos em infraestrutura, tecnologia e uma maior eficiência no uso de recursos.
A crítica à política de importação também reflete uma percepção de que o governo não tem dado atenção suficiente às necessidades do setor agropecuário, que é vital para a economia brasileira. Para muitos, as soluções propostas até agora não consideram a complexidade da cadeia produtiva e a necessidade de um planejamento de longo prazo que permita ao Brasil enfrentar de forma eficaz os desafios da inflação alimentar.
No fim, as discussões entre o governo e os representantes do agronegócio continuam sem um consenso claro, com os parlamentares do setor agropecuário pressionando por uma abordagem mais ampla e profunda para enfrentar os problemas econômicos que afetam os preços dos alimentos no Brasil. O debate sobre as melhores soluções para controlar a inflação dos alimentos segue, e o governo, por sua vez, terá que decidir como balancear as necessidades do setor produtivo com a pressão da população por preços mais baixos.