Influenciado por fatores externos, dólar volta a cair

LIGA DAS NOTÍCIAS

A cotação do dólar voltou a cair ontem, influenciada principalmente por fatores externos, apesar das incertezas no cenário econômico brasileiro. A moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,764, registrando uma queda de 0,52%. A desvalorização do dólar foi impulsionada pela ausência de novas medidas tarifárias por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no contexto da guerra comercial que seu governo tem travado com diversos países. Além disso, declarações de dirigentes do Federal Reserve, indicando que a redução dos juros nos Estados Unidos seguirá um ritmo mais gradual, contribuíram para um ambiente mais estável no mercado cambial.

O dia começou com o dólar em alta, refletindo a cautela dos investidores quanto às movimentações do governo norte-americano. No entanto, ao longo do dia, a moeda perdeu força diante da falta de novas ações protecionistas por parte de Trump. A expectativa era de que o presidente dos Estados Unidos pudesse endurecer sua postura em relação ao comércio global, mas isso não aconteceu. Além disso, o novo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, buscou tranquilizar o mercado ao afirmar que o governo não pretende interferir na política monetária do Federal Reserve. Ele ressaltou que, apesar das pressões políticas, não há uma tentativa de influenciar diretamente as decisões do banco central norte-americano. Bessent afirmou ainda que a prioridade do governo Trump é reduzir o rendimento dos títulos públicos de 10 anos, além de implementar reformas econômicas que estimulem o crescimento sem a necessidade de intervenção direta no câmbio.

A perspectiva de juros elevados no Brasil também influenciou o comportamento do dólar. Com a taxa Selic atualmente em 13,25% ao ano, o país se torna um destino atraente para investidores estrangeiros em busca de retornos mais elevados. Esse fluxo de capital para o Brasil fortalece o real e contribui para a queda da cotação do dólar. De acordo com Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, a combinação de uma taxa de juros elevada com a recente desvalorização do dólar no cenário global favoreceu a moeda brasileira. Ele destacou que o custo de manter apostas no dólar tem sido elevado, o que leva muitos investidores a buscar oportunidades em mercados emergentes como o Brasil.

No entanto, apesar do alívio momentâneo no câmbio, as preocupações com o cenário fiscal brasileiro permanecem. O pacote de medidas apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao Congresso na quarta-feira foi recebido com frustração pelos agentes do mercado, que esperavam ações mais concretas para conter o aumento dos gastos públicos. Além disso, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltando a criticar a política monetária do Banco Central geraram incertezas adicionais. A falta de medidas de contenção de despesas e o aumento das renúncias fiscais, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, são vistos com preocupação por economistas e investidores, que temem uma deterioração das contas públicas nos próximos anos.

Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, ressaltou que o governo tem prometido muito, mas entregue pouco no que diz respeito ao equilíbrio fiscal. Segundo ele, a falta de medidas concretas para conter os gastos públicos indica que o ministro Haddad enfrenta dificuldades para implementar uma agenda de ajuste fiscal. A proximidade do ano eleitoral de 2026 também preocupa os analistas, pois historicamente os governos aumentam os gastos em períodos que antecedem as eleições, o que pode comprometer ainda mais a trajetória fiscal do país.

Apesar das incertezas no cenário interno, o mercado de ações reagiu positivamente à queda do dólar. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou o dia em alta de 0,55%, alcançando 126.225 pontos. O desempenho positivo da bolsa reflete, em parte, a expectativa de que a manutenção dos juros elevados no Brasil continue atraindo investimentos estrangeiros, além da melhora no humor dos investidores com o cenário externo.

O desempenho do mercado financeiro nos próximos dias dependerá, em grande parte, das movimentações no cenário internacional e das decisões do governo brasileiro em relação às contas públicas. Enquanto o Federal Reserve adota uma postura mais cautelosa em relação à redução dos juros, o Brasil segue tentando equilibrar o combate à inflação com a necessidade de manter a confiança dos investidores. No curto prazo, a tendência do câmbio continuará sendo influenciada por fatores externos, mas as incertezas sobre a política econômica do governo Lula podem limitar um movimento mais expressivo de valorização do real.

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