Nísia, que tem 65 anos, havia completado o esquema primário com duas doses da CoronaVac em 2021 e recebido uma dose de reforço da Pfizer em 2022. No entanto, depois disso, o seu cartão de vacinação ficou incompleto, com apenas mais uma dose registrada em 2024. A revelação ocorre em um momento em que o governo federal intensifica as campanhas de imunização, enfrentando obstáculos como a desinformação e a baixa adesão à vacinação, além de problemas relacionados à gestão de estoques.
A discrepância entre as orientações do Ministério da Saúde e o histórico vacinal de Nísia levanta questões sobre a coerência das ações do governo. Em resposta à reportagem, a pasta confirmou as informações sobre o cartão de vacinação da ministra, mas destacou que ela tomou a dose de 2024 em 30 de janeiro e ainda teria tempo para completar o esquema vacinal até o fim do ano. A situação se dá em meio a críticas à gestão da vacinação, com o recente desperdício de milhões de doses de vacinas que foram incineradas após a validade expirar.
A revelação sobre o caso de Nísia é ainda mais relevante ao se considerar o contexto mais amplo da vacinação no Brasil. O país vem enfrentando uma queda nas taxas de cobertura vacinal desde 2016, o que tem gerado preocupações sobre o retorno de doenças como o sarampo e a poliomielite. Além disso, em 2024, o Ministério da Saúde incinerou 10,9 milhões de doses vencidas, sendo 6,4 milhões contra a Covid-19. Esse desperdício de vacinas evidencia problemas logísticos e de planejamento, e levanta dúvidas sobre a eficácia das políticas públicas de imunização implementadas pelo governo.
Nísia Trindade, que assumiu o cargo de ministra em 2023, tem se posicionado a favor da ampliação da vacinação no país, mas enfrenta desafios relacionados a atrasos na entrega de imunizantes e dificuldades de acesso em regiões mais distantes. Em 2024 e 2025, o governo adquiriu 69 milhões de doses de vacinas atualizadas contra a Covid-19, com um investimento de R$ 2,9 bilhões. No entanto, a Anvisa barraria uma versão atualizada da vacina em fevereiro de 2025, devido à falta de dados de eficácia, o que limita ainda mais as opções de imunização disponíveis.
A resistência à vacinação, por sua vez, é alimentada por desinformação, receios sobre efeitos colaterais e uma percepção de baixo risco da doença por parte de muitos brasileiros. Para tentar reverter esse cenário, o governo tem intensificado campanhas como o Movimento Nacional pela Vacinação, além de projetos de educação em saúde, como o Saúde com Ciência. No entanto, o fato de a ministra da Saúde não ter seguido integralmente as orientações do Ministério da Saúde pode prejudicar a confiança da população nas políticas de imunização.
Especialistas têm destacado que a vacinação é essencial para garantir a proteção contra formas graves de doenças como a Covid-19, especialmente para grupos vulneráveis como os idosos. Por isso, a decisão de Nísia de não ter seguido as diretrizes do próprio ministério pode ser vista como um sinal de descuido, o que acirra ainda mais os debates sobre a condução das políticas de saúde pública no Brasil. Além disso, o episódio reacende críticas à gestão de Nísia, com secretários estaduais de saúde relatando desabastecimento de vacinas em várias regiões do país. Esses relatos contrastam com as declarações da ministra, que afirmou publicamente que não há falta de imunizantes.
A situação coloca em xeque a coerência entre o discurso do governo e a prática no campo da saúde pública. A recomendação oficial de duas doses de reforço para pessoas acima de 60 anos foi estabelecida com base em estudos que apontam para uma queda na imunidade com o passar do tempo. A decisão de Nísia de não completar o esquema vacinal recomendado poderia afetar negativamente a percepção de que as autoridades estão comprometidas com a saúde pública de todos.
Com o ano de 2025 ainda em andamento, espera-se que a ministra tome as medidas necessárias para completar seu esquema vacinal, o que poderia amenizar as críticas e reforçar a mensagem de que todos devem seguir as orientações do Ministério da Saúde. Esse episódio, no entanto, expõe a necessidade de maior transparência e alinhamento entre as ações e as orientações do governo, especialmente quando se trata de questões tão cruciais como a vacinação. A continuidade da gestão de Nísia à frente da pasta estará sob vigilância, com a expectativa de que o governo encontre formas de garantir o abastecimento adequado de vacinas, aumentar a adesão da população e restaurar a confiança nas políticas de imunização no país.