Câmara dos EUA convoca big techs a compartilhar provas de 'censura internacional' do Brasil

LIGA DAS NOTÍCIAS

Na última quarta-feira, a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos convocou os CEOs das sete maiores empresas de tecnologia do país, pedindo que compartilhassem documentos que evidenciassem como a censura internacional tem prejudicado as liberdades civis dos americanos. A solicitação, feita pelo presidente da comissão, o republicano Jim Jordan, destaca a atuação de países como o Brasil, a Europa e a Austrália, que, segundo a nota oficial, teriam adotado medidas que interferem na liberdade de expressão de seus cidadãos e de empresas americanas. Em particular, o texto cita o ministro brasileiro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal (STF), apontando-os como exemplos de decisões judiciais que estariam afetando negativamente a liberdade de expressão nos Estados Unidos.


Essa convocação ocorre no mesmo dia em que a Comissão de Justiça aprovou um projeto de lei que visa cassar o visto, barrar a entrada e até deportar autoridades estrangeiras envolvidas em decisões contrárias à Primeira Emenda da Constituição Americana, que garante liberdade irrestrita de expressão. O projeto, de autoria do deputado republicano Darrell Issa, surgiu após a plataforma X, do bilionário Elon Musk, ter sido temporariamente bloqueada no Brasil em 2024 devido ao descumprimento de decisões judiciais relacionadas ao conteúdo de sua rede social. A proposta foi uma resposta direta às ações do ministro Alexandre de Moraes, cujas decisões são descritas pelos críticos como um ataque à liberdade de expressão, um tema recorrente no atual cenário político internacional.


A aprovação do projeto de lei gerou uma série de reações, incluindo uma defesa por parte do próprio Moraes, que, em uma sessão do STF, afirmou que está apenas cumprindo sua função de defender a Constituição brasileira e a soberania do país. Para o ministro, as críticas são infundadas e não correspondem à realidade das decisões que toma. Ele também enfatizou que o Brasil deixou de ser uma colônia em 1822 e segue sua jornada como uma República independente.


Em paralelo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos criticou abertamente o Brasil, acusando o país de censura, em uma clara alusão aos bloqueios judiciais contra plataformas como o X e a Rumble, que têm enfrentado dificuldades no Brasil em relação a decisões judiciais que exigem a remoção de conteúdo. O governo brasileiro, por sua vez, reagiu com firmeza, afirmando, por meio do Itamaraty, que rejeita a politização das decisões judiciais e acusou os Estados Unidos de distorcerem a natureza das ordens proferidas pelo ministro Moraes.


A reação do governo brasileiro é parte de um conflito crescente entre os dois países, que envolve não só a questão da liberdade de expressão, mas também uma disputa mais ampla sobre a regulação das plataformas de tecnologia e as práticas de censura. Além do Brasil, países como o Canadá, Reino Unido e a União Europeia também estão no centro das críticas dos republicanos americanos, especialmente com relação às tentativas de regulação do conteúdo nas redes sociais e suas implicações para a liberdade de expressão. A situação se torna ainda mais complexa com a aliança entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e algumas das maiores empresas de tecnologia, como o X, Rumble e Truth Social, plataforma fundada por Trump.


Os CEOs das sete maiores big techs, incluindo Sundar Pichai, da Alphabet (Google), Mark Zuckerberg, da Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Tim Cook, da Apple, Andrew Jassy, da Amazon, Satya Nadella, da Microsoft, Christopher Pavlovski, da Rumble, e Linda Yaccarino, do X, foram convocados a fornecer documentos e provas que evidenciem como as ações de censura em países estrangeiros têm prejudicado as liberdades civis nos Estados Unidos. A comissão afirma que os documentos, muitos dos quais podem incluir decisões de Moraes e outros líderes estrangeiros sob sigilo judicial, são necessários para que as empresas possam colaborar sem a interferência de governos externos.


Esse confronto internacional tem gerado repercussões dentro do cenário político e jurídico nos Estados Unidos. No Brasil, figuras políticas como o deputado Eduardo Bolsonaro têm trabalhado para pressionar o governo americano a adotar sanções contra autoridades brasileiras, incluindo Moraes, acusando-os de perseguição política contra a direita no país. Essa estratégia se baseia na argumentação de que o governo de Jair Bolsonaro, ao qual Eduardo é próximo, tem sido alvo de uma série de investigações e ações judiciais, incluindo a acusação de tentativa de golpe de Estado em 2022. Essa narrativa tem sido amplificada por aliados de Bolsonaro, que veem em Moraes um obstáculo à sua agenda política.


No campo jurídico, Moraes e outros membros do STF têm sido respaldados por colegas, como o ministro Flávio Dino, que defendeu publicamente a autonomia do Judiciário brasileiro e as decisões tomadas para proteger a soberania do país. Dino enfatizou, ainda com uma abordagem mais bem-humorada, que Moraes deveria, se necessário, tirar férias em Carolina, Maranhão, em referência a uma possível proibição de ingresso de Moraes nos Estados Unidos. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, também se posicionou em defesa de Moraes, destacando a importância de defender a democracia e as instituições brasileiras contra ataques internos e externos.


Esse embate entre as autoridades dos Estados Unidos e do Brasil, especialmente em relação às plataformas de mídia social, tem o potencial de transformar-se em um conflito diplomático mais amplo, com implicações para a regulação global da internet e a proteção da liberdade de expressão em um cenário cada vez mais digital e interconectado.

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