“Se a condição extrema for essa, sim. Mas há mecanismos que podem ser usados mesmo dentro do Mercosul, então acreditamos que isso pode ser feito sem necessariamente ter que sair [do bloco]”, afirmou o presidente, sugerindo que há alternativas para avançar nas negociações com os EUA, mesmo que o Mercosul, como bloco, se oponha a esse tipo de acordo.
A declaração de Milei gerou reações imediatas tanto na Argentina quanto nos demais países do Mercosul, que inclui Brasil, Paraguai e Uruguai. A posição do presidente argentino reflete sua abordagem pragmática e de orientação liberal, que tem sido uma característica marcante de seu governo desde que assumiu o cargo em dezembro de 2023. Milei tem defendido a implementação de políticas econômicas mais voltadas para o mercado internacional e a redução das barreiras comerciais que limitam a competitividade da Argentina. Para ele, o Mercosul, em sua atual forma, impõe limitações ao desenvolvimento econômico do país, especialmente no que diz respeito ao acesso a mercados como o norte-americano.
O Mercosul, criado em 1991, tem como princípio a formação de uma união aduaneira entre seus membros, o que significa que acordos comerciais com países fora do bloco precisam ser negociados coletivamente. Essa característica tem gerado tensões em alguns momentos, principalmente com os governos que buscam acordos mais rápidos e favoráveis com outras potências. O presidente uruguaio Luis Lacalle Pou e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que têm uma postura mais cautelosa em relação à ideia de um possível enfraquecimento ou ruptura do bloco, já manifestaram preocupação com as implicações de uma saída da Argentina.
Milei, por sua vez, tem se mostrado inflexível quanto à necessidade de adotar medidas mais incisivas para melhorar a situação econômica de seu país, que enfrenta uma grave crise financeira, com inflação alta e uma economia em recessão. O governo argentino acredita que um acordo de livre comércio com os Estados Unidos poderia impulsionar as exportações argentinas e atrair investimentos, além de permitir um acesso mais amplo a tecnologias e mercados mais dinâmicos. A saída do Mercosul, portanto, seria vista como uma medida extrema, mas uma que, segundo Milei, poderia ser considerada caso o bloco se opusesse ao movimento.
O posicionamento de Milei também reflete o distanciamento crescente entre a Argentina e outras economias latino-americanas, que tradicionalmente têm buscado um modelo mais integracionista, como o que propõe o Mercosul. A decisão de buscar acordos bilaterais com grandes potências, como os Estados Unidos, vai ao encontro da política externa mais liberal e pragmática do presidente argentino, que vê no estreitamento das relações com potências econômicas como uma forma de garantir a recuperação da economia argentina.
O governo brasileiro, liderado por Lula, tem demonstrado uma postura diferente, defendendo a manutenção da unidade do Mercosul, embora também seja favorável à busca de acordos comerciais com outros blocos e países. No entanto, o Brasil busca que essas negociações ocorram dentro dos parâmetros do bloco regional. Para os críticos de Milei, sua postura em relação ao Mercosul pode colocar em risco não apenas as relações econômicas dentro da América do Sul, mas também a estabilidade política e diplomática da região.
A ameaça de saída do Mercosul também é vista como uma tentativa de Milei de pressionar os outros membros do bloco para que aceitem a proposta de um acordo com os Estados Unidos. A negociação de acordos de livre comércio com países fora do Mercosul tem sido um tema recorrente no bloco, com divergências internas sobre como avançar nas discussões com potências econômicas como a União Europeia e os Estados Unidos.
A situação ainda está em andamento, e é provável que, nos próximos meses, as negociações dentro do Mercosul se intensifiquem, com a Argentina tentando garantir um espaço para suas ambições comerciais, ao mesmo tempo em que os outros membros do bloco buscam evitar a fragmentação. A postura de Milei coloca o Mercosul diante de um dilema: buscar um equilíbrio entre a preservação da integração regional e a flexibilização para que os países membros possam negociar individualmente com grandes potências econômicas. A evolução dessa questão poderá definir os rumos da política comercial e diplomática da América do Sul nos próximos anos.