Lula muda local de evento em SP com medo de “falta de povo”

LIGA DAS NOTÍCIAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mudar o local da cerimônia de anúncio do novo programa habitacional voltado às famílias da Favela do Moinho, no centro de São Paulo, após demonstrar insatisfação com o formato inicialmente proposto para o evento. A solenidade, prevista para ocorrer na manhã desta quinta-feira, dia 26, em um galpão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi transferida para as 14h, dentro da própria comunidade. A alteração de última hora reflete a tentativa do presidente de dar mais visibilidade e autenticidade ao anúncio, conectando-o diretamente à população beneficiada.


A decisão foi tomada após Lula reclamar da “falta de povo” no galpão escolhido para sediar o evento. Segundo relatos de integrantes do governo, o presidente avaliou que um ato fechado, mesmo contando com a presença de movimentos sociais, não cumpriria o objetivo político e simbólico da iniciativa. Para ele, o anúncio de um programa habitacional voltado às camadas mais pobres da população deveria ocorrer ao lado dos diretamente impactados pelas políticas públicas. A queixa foi ouvida e resultou na retomada do plano original de realizar a cerimônia na própria favela, onde vivem centenas de famílias em situação precária.


O local anterior, um galpão sob responsabilidade do MST, havia sido escolhido por questões de segurança e logística, com apoio da equipe de organização do evento. No entanto, a percepção de que o ambiente não transmitiria o caráter popular da ação levou Lula a insistir na mudança. A alteração exigiu um esforço extra dos organizadores, que tiveram de adaptar a estrutura do evento em poucas horas para garantir as condições mínimas de segurança, som e acessibilidade no novo local.


Durante o evento, será oficializado o acordo firmado entre os governos federal e estadual para garantir moradias às famílias da Favela do Moinho. A parceria será viabilizada por meio do programa Compra Assistida, já utilizado no Rio Grande do Sul em resposta às enchentes que devastaram comunidades inteiras naquele estado. O modelo permite que as famílias escolham imóveis prontos disponíveis no mercado, com recursos públicos custeando as aquisições.


Segundo os termos do acordo, cada família da comunidade poderá escolher um imóvel de até R\$ 250 mil. O governo federal será responsável por arcar com R\$ 180 mil desse valor, enquanto o governo do Estado de São Paulo completará os R\$ 70 mil restantes. A iniciativa foi desenhada para acelerar o processo de realocação das famílias, evitando longos períodos em abrigos provisórios ou em áreas de risco.


A Favela do Moinho é uma das últimas grandes ocupações precárias localizadas na região central da capital paulista. A área convive há décadas com promessas de urbanização, remoções e disputas fundiárias. A presença de Lula no local simboliza, para o governo, um gesto político de compromisso com a inclusão social e o direito à moradia digna, além de reforçar a atuação do Executivo federal em São Paulo, onde o governador Tarcísio de Freitas, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, lidera a oposição ao Planalto.


A cerimônia deverá contar com a presença de ministros, autoridades estaduais e municipais, além de representantes dos movimentos sociais e dos próprios moradores da comunidade. A expectativa do governo é de que a presença de Lula no local proporcione forte apelo simbólico e midiático, contrastando com a percepção de afastamento entre o Executivo federal e as bases populares, que tem sido alimentada por adversários políticos nos últimos meses.


Internamente, a mudança de local também é vista como um movimento estratégico do presidente para reconectar sua imagem ao povo, em um momento em que enfrenta críticas por decisões econômicas impopulares e por dificuldades na articulação com o Congresso. Ao decidir ir até a comunidade, Lula reforça o estilo político que marcou suas campanhas anteriores, focado no contato direto com os mais pobres e no enfrentamento simbólico com as elites econômicas e políticas do país.


Embora a escolha do galpão do MST tenha sido pensada como um ambiente seguro e politicamente alinhado, a decisão de realizar o evento na favela representa, para Lula, um resgate da narrativa de proximidade com o povo. O gesto foi interpretado como um recado ao próprio partido e à base aliada: as ações do governo devem estar no chão da realidade, ao lado daqueles que mais precisam de políticas públicas efetivas. Resta saber se o impacto do anúncio será suficiente para reverter a crescente desconfiança que parte da população vem demonstrando em relação ao governo.


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