O material, apresentado com ares de documento técnico e pedagógico, busca contestar ponto a ponto o conteúdo das falas do deputado, sobretudo aquelas que envolvem o funcionamento do Instituto Nacional do Seguro Social. O texto traz tabelas, leis, dados estatísticos e até pareceres, com o objetivo declarado de esclarecer o público sobre supostas inverdades disseminadas por Nikolas. No entanto, longe de cumprir seu papel de desmentir, a cartilha acabou sendo recebida com sarcasmo e descrédito, inclusive por parte de pessoas que sequer acompanham de perto a atuação política do jovem parlamentar.
Apesar do esforço técnico, o tom adotado no documento foi alvo de críticas por soar excessivamente militante e engessado. Muitos internautas notaram a presença marcante de jargões ideológicos e construções retóricas típicas do discurso petista, o que acabou afastando qualquer possibilidade de diálogo com um público mais amplo e diverso. Em vez de parecer uma resposta racional e fundamentada, o conteúdo foi interpretado como uma reação emocional e partidária, o que enfraqueceu sua autoridade argumentativa.
Nikolas Ferreira, como era de se esperar, reagiu de imediato e com habilidade. Utilizando seus perfis nas redes sociais, ironizou o conteúdo, classificando-o como “material de comédia” e “a prova de que a verdade incomoda quem mente há anos”. O deputado aproveitou o momento para reforçar sua imagem de opositor combativo ao establishment e mobilizar sua base de seguidores, que não tardou a transformar a cartilha em alvo de memes, vídeos e paródias. O movimento espontâneo gerado nas redes sociais superou em impacto qualquer tentativa institucional de conter a sua influência.
A tentativa do PT de silenciar ou deslegitimar Nikolas, ao contrário do desejado, acabou servindo como combustível para sua já consolidada presença digital. A cartilha deu ao deputado a oportunidade perfeita de se colocar como alvo de perseguição política, um discurso que encontra ampla ressonância entre seus apoiadores. Em um contexto onde o discurso contra o sistema tradicional tem ganhado força, principalmente entre os jovens, o episódio reforçou sua imagem de “ameaça ao sistema”, um papel que ele desempenha com desenvoltura e estratégia.
A repercussão do caso também colocou em xeque a eficácia das estratégias tradicionais de comunicação política frente à nova realidade digital. Enquanto partidos como o PT ainda investem em cartilhas, relatórios e notas oficiais, figuras como Nikolas Ferreira movimentam multidões com vídeos curtos, frases impactantes e linguagem acessível. O contraste evidencia a dificuldade dos partidos tradicionais em lidar com uma nova geração de parlamentares que não dependem da velha imprensa para pautar o debate público.
Internamente, a liderança petista tem enfrentado questionamentos sobre os resultados reais da iniciativa. Alguns parlamentares admitiram, em conversas reservadas, que o material pode ter sido publicado de forma precipitada, sem avaliar corretamente o terreno em que seria lançado. A ausência de estratégia para lidar com a reação previsível nas redes sociais revela uma desconexão preocupante com os mecanismos atuais de disputa narrativa.
A verdade é que, ao tentar desmentir Nikolas, o PT acabou amplificando ainda mais suas falas. A cartilha, que deveria esclarecer, acabou funcionando como holofote. Para um parlamentar que cresceu em meio à polêmica e ao embate direto, nada poderia ser mais conveniente do que a atenção gratuita de seus maiores adversários políticos. O episódio deixa claro que, em tempos de política digital, visibilidade vale mais do que reputação formal, e que qualquer tentativa de ataque, se não for cirurgicamente planejada, pode acabar fortalecendo ainda mais o adversário que se pretende combater.
A nova política exige menos rigidez e mais sagacidade. Em vez de cartilhas longas, o momento pede respostas rápidas, diretas e que falem a linguagem das ruas e das redes. Enquanto os partidos tradicionais não entenderem isso, seguirão perdendo terreno para figuras que, como Nikolas Ferreira, dominam o jogo da comunicação contemporânea com um celular na mão e uma câmera ligada.